Haveria muitas formas de explicar o trabalho realizado pelo Centro de Referência e Atenção ao Idoso da Universidade de Passo Fundo (Creati/UPF) há 25 anos, mas talvez a mais simples delas seja a resposta que a aluna Judita Reni Giordani, 87 anos, dá sempre que perguntam a ela o que ela vai fazer no Creati: “eu vou viver”. Para comemorar as bodas de prata, uma programação especial foi organizada e realizada no Centro de Eventos no Campus I da UPF e reuniu cerca de 500 idosos de Passo Fundo, Carazinho e Lagoa Vermelha que participam das atividades oferecidas pelo Centro, que é vinculado à Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (VREAC) da UPF. Alegria, sabedoria e muita vida marcaram a atividade.
Dona Reni, como é mais conhecida, participa do Creati desde 1990. Hoje viúva, ela tem cinco filhos e vários netos e bisnetos. Se antes de participar das atividades oferecidas pelo Centro o tempo era utilizado para cuidar da casa e fazer alguma viagem, depois, passou a ter um outro olhar sobre a vida. “O Creati passou a ser a minha segunda família. Todo dia me levanto, me arrumo para as atividades, para encontrar o grupo. Sempre tem alguma novidade. Estamos sempre de mala ou espírito pronto para qualquer coisa. Muitos me perguntam: o que que tu vai fazer no Creati? Viver. Eu vou viver lá. Eu vivo em casa também, mas é diferente”, define.
A amizade é, para ela, a maior contribuição que pode dar ao grupo. “Tenho um monte de amigos. Lá é uma família. Encontramos as pessoas e é aquela festa, aquele abraço. Faz parte da minha vida”, reforça. Para os mais novos, dona Reni deixa o recado: “Não pare. Faça atividade. Vá dançar, caminhar, viajar. Não dá é pra parar no tempo. Porque se tu não faz nada fora do teu dia a dia, tu para no tempo e não vê a vida passar”.
Mudança do processo de envelhecer
A coordenadora do Creati, professora Daniela Bertol, explica que a forma de envelhecer mudou. “Antigamente, o vô e a vó ficavam em casa espiando pela janela, esperando a morte chegar. Hoje em dia não. Eles se aposentam e estão muito ativos. Com 50 ou 60 anos são super jovens e buscam atividades para preencher o tempo que ficou livre por causa da aposentadoria para fazer coisas que, quando estavam na vida ativa, de profissional, eles não tinham tempo de fazer”, salienta.
Além disso, o Creati tem o diferencial de estar inserido em uma Universidade que, além das atividades diretas oferecidas, congrega o ensino, a pesquisa, a extensão e a inovação tecnológica. As atividades sempre são pensadas para atender às demandas dos participantes e também para incluir novidades que atraiam os idosos. Hoje, nos campi da UPF em Passo Fundo, Carazinho e Lagoa Vermelha, o Creati congrega cerca de 900 pessoas nas diversas atividades e oficinas.
Se em 25 anos muito trabalho foi feito, ainda restam muitos desafios para o futuro. A professora Daniela destaca, dentre eles, a adaptação às mudanças das demandas da população idosa que acontecem de forma cada vez mais rápida, a inclusão das tecnologias na vida das pessoas e o aperfeiçoamento dos profissionais que trabalham com esse público. “Temos ainda o desafio de conquistar diferentes públicos, principalmente o masculino, e pensar novas formas de atraí-los”, ressalta.
Cuidado, acolhimento e incentivo
A vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários da UPF, professora Bernadete Dalmolin, também participou da comemoração. “Quero agradecer aos precursores desta grande inovação que passou a ser difundida pela maioria dos municípios, dando sentido a muitas vidas que estavam à espera de uma ciência que pudesse dar lugar a encontros e que atribuísse maior serenidade e qualidade a esse período da existência”, disse durante seu pronunciamento. Ela lembrou ainda do trabalho fundamental do professor e pesquisador Agostinho Both como um dos grandes impulsionadores da criação do Creati. Both foi convidado para palestrar aos presentes.
Além da palestra do professor Both, que abordou a criação do Creati, a tarde teve a participação do Grupo de Danças da UPF, uma intervenção teatral com o artista Beto Mayer, a apresentação dos grupos de dança e coros do Creati e o desfile das soberanas. A abertura contou ainda com a presença das professoras Carmen de Andrade, do Creati Carazinho, e Marcia Ferreira, de Lagoa Vermelha, além das representantes dos diretórios acadêmicos de Passo Fundo, Carazinho e Lagoa Vermelha, Ires Terezinha Brandi, Loureci Sgarbi e Nanci Mallmann, e de professores de diversas oficinas. Homenagens foram prestadas a professores, ex-coordenadores e funcionários e envolvidos com o Centro.