Uma vez identificadas as causas que impediam a maior adoção do Sistema Plantio Direto (SPD) nas regiões do Alto Uruguai e Planalto Médio, no Rio Grande do Sul, a solução do problema começou a ser delineada pela elaboração de uma proposta de transferência de tecnologia em agricultura, envolvendo parcerias entre empresas/instituições públicas e privadas; dos segmentos pesquisa cientifica e tecnológica, extensão rural, industrial, comercial e de serviços: o projeto METAS - Viabilização e difusão do sistema plantio direto no Rio Grande do Sul.
A solução do problema, claramente, excedia a capacidade uma instituição isolada. Foi então que houve a formação de um projeto de transferência de tecnologia envolvendo parcerias entre empresas públicas (pesquisa e extensão rural) e privadas, que passaram a compartilhar o conhecimento vinculado aos seus técnicos, estruturas físicas e que até mesmo estavam dispostas a aportar recursos financeiros, via contratos de cooperação. Inquestionavelmente, havia entre os parceiros, que possuíam pontos fortes e fracos diferentes e por isso se complementavam, convergência de interesses e respeito mútuo.
O projeto METAS foi oficialmente iniciado em 1993, com uma intensa programação de treinamento posta em prática, envolvendo: tecnologia de dessecação/regulagem de pulverizadores; manejo de culturas de cobertura (aveia preta, principalmente); regulagem/adaptação de semeadoras (faltavam máquinas para SPD adequadas à estrutura fundiária dominante); fertilização e correção de solos; controle de pragas e doenças, etc. O treinamento focou nos preceitos do novo SPD, tendo por base a mobilização do solo restrita à linha de semeadura, a manutenção de palha na superfície e a diversificação de culturas (colher-semear, cobertura perene do solo e aporte de matéria orgânica ao sistema). A partir do treinamento recebido, os assistentes técnicos montavam as Unidades de Treinamento e Demonstração (UTDs) do METAS, que serviam tanto para a aprendizagem do próprio treinando quanto para a difusão do sistema via dias de campo locais.
Os resultados do projeto METAS, que transformaram a realidade do SPD no norte do Rio Grande do Sul, apareceram de pronto. Na área de abrangência do projeto, em 1993, as lavouras ocupavam anualmente 917.450 ha, sendo que, desses, apenas 45 mil ha adotavam o que poderia ser chamado de plantio direto. Um ano depois, em 1994, a área com SPD subiu para 150 mil ha (46%), em 1995, chegou a 420 mil ha (71%), em 1996, alcançou 650 mil ha (71%) e, em 1997, atingiu 820 mil ha (90%). Não havia mais margem para dúvida que o projeto METAS, com a primeira fase prevista para durar de 1993 a 1998, tinha cumprido e com folga as suas metas. Começou então a discussão do que seria chamado de projeto METAS – Fase 2, contemplando também os campos de pastagem do sul do Estado, para entrar em ação a partir de 1998, com a previsão de inclusão de novos parceiros. Esse METAS-Fase 2 não foi levado adiante. O SPD não era mais exceção e sim a prática dominante na agricultura do sul do Brasil. Os vazamentos tecnológicos decorrentes do projeto METAS já se faziam sentir e ainda estão presentes muito além das fronteiras da sua região original de abrangência. Muitos problemas dos SPD foram resolvidos e, com o passar dos anos, outros novos sugiram (resistência de plantas daninhas, volta da erosão em algumas lavouras, etc.).
Ainda que eu possa estar omitindo nomes (involuntariamente), cabe destacar que os principais protagonistas do projeto METAS foram: José Eloir Denardin, Rainoldo Kochhan, Antonio Faganello, Delmar Pöttker e Celso Antônio Nardi, de parte da Embrapa; Tabajara Nunes Ferreira, Antoninho Berton e Itacir Barreto de Melo, pela EMATER-RS; Victor Hugo Carrão (um entusiasta da fase inicial do projeto) e Maria Arminda O. C. Grazziotin, pela Monsanto; e Eduardo Copetti, da SEMEATO.