Sexta (25), 12:40, amanhecido de um extenuante plantão no hospital, acabo de perder um paciente politraumatizado, vítima de acidente de trânsito e passei noite e meia manhã na tentativa de salvá-lo. O conjunto das lesões abdominais e cerebrais foi mais forte que o esforço da equipe. Faltam vinte para as 13 horas e disponho de cinquenta minutos para devorar esse lanche e digitar algo decente para compartilhar com vocês. O que escrever, mande-me uma ideia daí, de onde você está.
O dia amanheceu enferruscado, como se dizia lá em Cruz Alta, e a visão inicial dele trouxe por mágica, por coisas que a gente nem sabe explicar, lembranças do mágico julho 1976. Meus pais haviam se mudado para Blumenau e Renato e eu fomos de férias visitar a família. Dez da noite, rodoviária de Passo Fundo, Pluma até Lages. Quatro e meia da matina, Reunidas passando por Pouso Redondo, Rio do Sul, Apiúna e sua igreja maravilhosa, Indaial e, finalmente, Blumenau. Meu pai aguardava a gente, usando um carro emprestado. O tempo estava enferruscado como hoje. Em 1976 a novela das oito era Casarão que, na minha opinião, teve a melhor trilha sonora internacional ao lado da novela Champagne. Tocava, também, Tu T’en Vas (Alain Barrière), aportuguesada como Não se Vá, na voz de Jane e Herondi, que em São Paulo chamavam de Jânio e Erundina. Eu tinha apenas dezenove anos e Renato, dezoito. Tudo parecia mágico, cidade nova, costumes novos, o jeito diferente daquela alemoazada que me conquistaria. minha família toda de novo reunida, como era bom.
Boas lembranças chamam de saudosismo. Como se chama lembrar de coisas desagradáveis? Eu tenho o costume de lembrar somente de coisas boas, daquilo que me impactou, daquilo que aventuramos e com pessoas que não habitam o mesmo universo que nós.
Agora estão faltando quinze minutos para meu compromisso e tenho que enviar essa crônica para o jornal, antes de tomar uma banho para recomeçar o dia. Ainda, percebam, estou na quinta e o meu paciente ainda está na minha frequência, junto com o pranto de seus familiares. Como terminá-la, como deixar uma mensagem legal para o fim de semana?
Puxa, veio-me Gonzaguinha que estava tocando às quatro da madrugada numa rádio qualquer, momento em que eu terminava uma cirurgia. Começaria Tudo Outra Vez. Quer saber? Eu também, véio, começaria tudo, tudo outra vez porque foi bom prá caramba. para coração sereno até tempo enferruscado é belo.
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