Os casos de mormo identificados no Rio Grande do Sul têm causado preocupação da população e das autoridades de saúde. Apesar de não haver um surto da doença, é preciso que um controle eficaz seja feito neste momento para evitar a sua proliferação. Em Passo Fundo, o I Fórum Gaúcho do Mormo debateu este e outros aspectos relacionados à doença. A programação foi desenvolvida no Centro de Eventos da UPF e no Salão de Eventos do 3º Regimento de Polícia Montada (3ºRPMon).
O professor da UPF e tenente coronel da Brigada Militar João Ignácio do Canto é o coordenador do evento. Ele esclarece que não há um surto no Estado, mas, com os casos registrados, é preciso que se faça um trabalho de eliminação da doença. O professor cita casos europeus e norte-americanos que conseguiram realizar um controle efetivo. “O RS não tinha registro da doença que foi introduzida por meio de animais que vieram de fora, assim como aconteceu em Santa Catarina, em 2004. Precisamos tomar providências no sentido de evitar a evolução e eliminar o problema”, reforça. Na opinião do professor, o controle não deve apenas ser realizado no Estado, mas no Brasil como um todo, e mesmo internacionalmente.
Exigência de exame
Canto explica que uma das medidas adotadas hoje para evitar que a doença se espalhe, é a exigência de exame de negativo para se poder transportar animais. A Guia de Transporte Animal (GTA) é o documento necessário que deve incluir exames negativos para mormo, com validade de 60 dias, anemia infecciosa e informação de vacina para gripe. A GTA emitida pelas Inspetorias Veterinárias é fundamental ainda para que se possa fazer um rastreamento epidemiológico, caso necessário. O documento é exigido tanto para o transporte de animais quanto para a participação em eventos como desfiles e rodeios, por exemplo.
Case catarinense
Ainda em 2004, o estado de Santa Catarina identificou os primeiros casos de mormo e iniciou o combate à doença. Ivanor Baldasso é médico veterinário da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina e foi um dos palestrantes convidados para relatar o caso no Fórum Gaúcho. Baldasso explica que no estado vizinho a doença foi diagnosticada pela primeira vez em 2004, no município de Indaial. “Naquela época foram 37 animais em um haras e erradicamos a doença na propriedade em seis meses com três mortos e 11 sacrificados. Identificamos 57 outras propriedades que tiveram vínculo com o foco e não foram descobertos novos casos”, revela destacando o sucesso das medidas de controle de avanço da doença.
Neste ano, um novo foco se iniciou em São Cristóvão do Sul. Um animal apresentava sintomas clínicos e teve material coletado para exame que confirmou a doença. “Isso foi no começo de junho e de lá pra cá foram 19 novos focos com 24 animais sacrificados até o momento e nos últimos 30 dias não tivemos novos focos”, esclarece Baldasso. Ainda há alguns casos suspeitos sendo investigados. “A parte de desinfecção e isolamento das propriedades e investigação epidemiológica tem se mostrado eficientes e vamos continuar nessa batalha para casos de surgimento de novos casos”, enfatiza.
Bactéria causadora
O mormo é causado por uma bactéria que se propaga, principalmente, pela ingestão de água e alimentos contaminados. Além disso, a proximidade com animais contaminados também pode causar a contaminação quando há contato com gotículas de secreção eliminadas pelas vias respiratórias, por exemplo. No entanto, essa forma de contágio é menos comum. Conforme Baldasso, o principal problema ocorre em casos de animais que podem estar contaminados e não mostrar sintomas e permanecerem como foco de contaminação a outros animais.
Transmissão para pessoas
A bactéria pode atacar diversas espécies de mamíferos, entre eles as pessoas, embora a frequência de contaminação seja baixa. O médico veterinário destaca que estudos demonstram que, no ambiente, a bactéria resiste por cerca de seis semanas. No entanto, ela não apresenta muita resistência à exposição ao sol e os desinfetantes mais comuns podem eliminá-la.