A separação é um momento difícil para qualquer família. É necessário um trabalho para que a criança entenda a situação e passe pelo momento da melhor forma possível. Ainda assim, alguns pais acabam piorando o cenário, criando situações em que colocam o filho contra o outro genitor. O assunto, chamado de alienação parental, que pode até levar a falsas acusações de abuso sexual, foi tema de uma palestra que fez parte do 8º Seminário de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, ocorrido ontem (8). A psicóloga Helena Christ, palestrante do evento, discorreu sobre a realidade dessas famílias e a importância do debate acerca do assunto. Segundo ela, esse tema vem sendo bastante discutido desde que a lei que dispõe sobre ele passou a vigorar em agosto de 2010. “Antes, quando o pai ou a mãe, no caso de separação, jogava a criança contra o genitor, não acontecia absolutamente nada. O tema não era considerado, não se olhava para isso. A criança era vitimizada, a família ficava completamente destruída, principalmente aquele genitor que estava sendo acusado de ter abusado a criança em uma denúncia falsa”.
A situação gera um trauma no filho, causando problemas de autoestima e podendo chegar até mesmo ao suicídio. Segundo Helena, é uma ferida emocional tão grande que às vezes não permite recuperação. “Realmente a criança termina se vendo como abandonada, como uma pessoa não amada pelo pai ou pela mãe, como rejeitada, então isso vai criando uma ferida nela muito grande que às vezes não tem mais o que se fazer”, explica. Muitas vezes, quando se torna adulta, a pessoa que passou por essa situação percebe o que realmente acontecia. “Aí essas crianças vão crescendo, vão ficando adultas e lá pelas tantas começam a descobrir a realidade. Veem o que de fato acontecia, que não é que o pai não procurava, não cuidava, que o pai não ama”. Para a psicóloga, debater o tema é importante para que se possa conhecer a realidade de muitas famílias e impedir que as situações aconteçam. “A gente discutir isso é, na verdade, se prevenir”. O papel de prevenção não é apenas dos pais, mas de todos os órgãos envolvidos com a criança e o adolescente. Professores, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos e toda a rede de proteção tem um papel crucial na prevenção de situações como essa.
O seminário
Com o objetivo de capacitar a respeito da violência sexual e das ações para prevenção e atenção à vítima, a Sociedade de Auxílio à Maternidade e à Infância (Sami) e o Centro de Estudos e Proteção à Infância e Adolescência (Cepia) promoveram o Seminário de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes. A atividade, que está em sua oitava edição, aconteceu quinta-feira (8), no Centro de Eventos do Colégio Notre Dame. Além de palestras, o evento contou com a apresentação do humorista Carlinhos Tabajara.
O que diz a lei
Art. 2º Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Alienação parental
Descreve a situação de famílias com pais separados que disputam a guarda dos filhos. Mãe ou pai manipula e condiciona seu filho para vir a romper os laços afetivos com outro genitor, criando sentimentos de ansiedade e temor em relação ao ex-companheiro.