OPINIÃO

Percas

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Recentemente tivemos percas (como diz Luís Inácio) importantes como a do Dr Elbio e Castelinho na vizinha Carazinho. Dr Elbio foi um grande companheiro, competente, otimista e bonachão. Castelinho foi um radialista impactante que sentaria a mesma mesa de JG, Julio Rosa, Meirelles e dos irmãos Freitag. Perdemos alguém de quem pouco ouviste falar: Walter Portela, sobre qquem pretendo escrever na próxima semana. E, agora, Luis Carlos Miéle. Conheci Miéle através do programa Planeta dos Homens, onde desfilava seu imenso talento na companhia de Jô Soares. Tinha um humor refinado; depois percebi-o cantando e dançando, um legítimo showman.

No entanto, foi em 2005, numa viagem ao Rio que descobri o livro Poeira de Estrelas (Ediouro, 2004) em que conta sua trajetória. Paulista, fluente em inglês e bom em francês, mudou-se para o Rio e dedicou-se a estudar música popular, além de jazz, blues, soul e Bossa Nova, gênero do qual foi incentivador e divulgador. Um dia, pussuqueando um gim com tônica no bar do Copacabana Palace percebeu Nat King Cole repassando as músicas que cantaria à noite para o seleto jet set carioca. Aproximou-se da lenda norteamericana e falou da admiração que tinha pela carreira deste. Nat, desconfiado, solicitou detalhes e Miéle brilhou descrevendo minuciosamente o primeiro, segundo, terceiro discos, sobre arranjos musicais, parcerias, enfim. Nat ficou tão encantado que, à noite, entre uma música e outra, levantou-se e disse: quero chamar ao palco para sentar-se a meu lado, o meu grande amigo Luís Carlos Miéle. Bingo, nascera Miéle, agora descoberto pela imprensa e pelos endinheirados cariocas. Daí em diante: Bôscoli, Menescal, Carlos Lyra, Vinícius, Darlene Glória e seu namorado Mariel Mariscot, Nelson Motta, a turma do Pasquim, Roberto Carlos, Elis, Sandra Bréa, TV, Jô Soares, Fantástico...Homem múltiplo, cantor, produtor, dançarino, apresentador, animador...Showman autêntico. Afonso Romano de Sant’Ana prefaciou Poeira de Estrelas: Miéle, de múltiplos talentos poderia ter sido tudo isso, porém preferiu ser isso tudo. Bonito, não é mesmo? Não deixe de ler, é imprescindível, assim como os livros de Nelson Motta e de Ruy Castro sobre Hermínio Bello de Carvalho (Taberna da Glória e Outras Glórias).

Entre tantas há uma estória deliciosa. Certa feita, numa ponte Rio-São Paulo percebeu a presença do mestre Telê Santana. Sentou-se a seu lado e desfilou uma teoria de os jogadores de futebol poderiam ser divididos em duas categorias: os boleiros (jogavam para si mesmos) e os craques (jogavam também para o time). Começou a citar nomes para a apreciação de Telê: Carlos Alberto, Tostão e Gerson seriam craques e Marinho Chagas (lateral esquerdo da copa de 74) teria sido boleiro. Pelé? Bem, Pelé teria sido boleiro, craque e outros adjetivos ainda não inventados, segundo Telê. Miéle conta que Deus teria ouvido essa conversa e disse a Pedro: vamos descer até a Gávea que vou fazer o gol que Pelé não conseguiu. Pedro resmungou: ai, Jesus, é hoje. Madrugada, Pedro no gol, Deus vai até o meio de campo, ajeita a bola, corre e dá um bico mas, destreinado fez a bola ir por cima da trave e ela foi parar na Lagoa, boiando. Deus ordenou: Pedro, busque a bola. Pedro retruca: chefe, a regra é clara, chutou prá fora, é o senhor que tem que buscar. Deus atravessou a rua e começou a caminhar sobre as águas da Lagoa. Foi quando um bêbado saído de um bar às quatro e meia da manhã admirando incrédulo a cena perguntou a Pedro: quem aquele cara pensa que é? Será qu ele pensa que é Deus? Pedro respondeu, balançando a cabeça: pior que isso, ele pensa que ele é o Pelé.

Gostou? Compartilhe