Cacilda Becker (48), atriz, morreu em junho de 1969. Eu, cruzaltense, estava no primeiro ano ginasial e nem imaginava que em meses iria encontrar meu destino em Passo Fundo. Minha mãe, Neca chorou. Ela admirava Cacilda (mãe de Cleide Yaconis e casada com Walmor Chagas), Bibi e Procópio Ferreira, Walter Foster e Amilton Fernandes. Cacilda tivera um mal-estar em cena e fora levada ao hospital vestindo a roupa de sua personagem. Minha mãe apreciava o teatro e a estabilidade dos casamentos eternos, como imaginava ser os de Tarcísio-Glória, Paulo Goulart-Nicette Bruno, John Herbert-Eva Wilma e Carlos Alberto-Yoná Magalhãe, gente marcante da representação. Paulo Goulart morreu ano passado; Yoná, essa semana; Carlos Alberto em 2007 e John Herbert em 2011. O teatro, cenário dos grandes atores-atrizes, contava a vida e seus desatinos, os amores e desamores, esperanças, alegrias e tristezas. Gritava o que a gente não podia gritar ou que não sabia como fazê-lo. Teatro, eu somente visualizava-o pelas enciclopédias escolares e sobre Augusto Boal, Oduvaldo, Guarnieri e Antunes Filho. Nunca ouvira falar de paulo Autran, Fernanda Montenegro e Plínio Marcos.
Eu nada sabia,mas o passofundense Walter Portella sabia tudo e, à semelhança de Jorge, foi encontrar seu destino em outra cidade que não a sua através do congraçamento da arte teatral, artista itinerante-inquieto, comendo qualquer coisa, bebendo o que estivesse ao dispor, respirando Shakespeare, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues e a outros tantos. Representou-os em inúmeros países. Premiadíssimo, formou centenas de atores e nunca perdeu a candura do artista. Renunciara corajosamente a uma vida bucólica e envereredou ao destino. Ao contrário de tantos, acordou do sonho para realizá-lo, transformou-o em realidade. Walter é orgulho para Passo Fundo e a gente nem o conhecia. Vida intensa e limitada pela ridícula temporalidade de nossas existências culminou que, no derradeiro, emparedado pelo inexorável, recebeu acalanto do filho Marcus Alexandre Portella, seu irmão gêmeo de alma. Velado no Teatro de Arena de São Paulo, palco que ajudou a criar, lugar ideal para despedida do ator-diretor-produtor, criador de emoções, sonhos e consciências, através da arte da interpretação. Arte para poucos, arte para os escolhidos, foi homenageado pelo silêncio respeitoso dos colegas, eternos fãs porque há pessoas que nunca sairão de cena. Walter foi chamado de sua vida para o teatro, estava escrito. Seu filho Marcus soube entender a escolha-chamado de seu pai, mas os gênios nem sempre são compreendidos.
Henrique Stédile forjou seu nome como empreendedor na área agropecuária. Pioneiro, inovador e empreendedor construiu um império econômico e social e contribuiu como poucos para o crescimento e engrandecimento regional. Deixou legado inigualável para seus admirados filhos. Além de tudo que se diz sobre esse gigante, soube sobre a figura de Henrique Stédile a peculiar maneira carinhosa que dispensava a seus funcionários. Legal, humanidade e respeitos cada vez mais raro. Homem para imensos horizontes sem deixar de dar atenção a seus próximos, mesmo que humildes. O mundo precisa de mais homens desse naipe. Descanse em paz, seu henrique, tu mereces; a turma está aí para continuar tocando a vida e as coisas do jeito que tu ensinastes.