OPINIÃO

Como ela é

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A vida, esse suposto presente que recebemos, tem suas trajetórias pelo acaso absoluto, se assim você entender que deva ser ou eivada de sentidos. Quem imagina que tem obrigações ou missões ou, ainda, destino como entendem os espíritas buscam impregná-la de ações positivas. Subjetivamente e espiritualmente entendo que temos três possibilidades para conduzir nossos caminhos: tem coisas que devemos fazer, tem coisas que podemos fazer e tem coisas que gostaríamos de fazer. Como pai, devo direcionar meus filhos para torná-los cidadãos dignos. Poderia ser mais presente em seus cotidianos. Gostaria que eles encontrassem as suas almas gêmeas e que fossem eternamente felizes. Nem tudo que queremos ou gostaríamos de fazer é possível. Nesse caso resta a nós fazer o que devemos. Um pai se realiza quando torna o necessário possível.

A vida é como ela é, como escreveu Nelson Rodrigues. Mas, ao olhar determinadas novelas e filmes, ao assistir futebol declinamos momentaneamente do que é para o que poderia ser. Existe o real e o imaginário, uma espécie de segunda chance, a vida que gostaríamos que tivéssemos tido. O teatro no Brasil tem marca especial em 1948 quando Alfredo Mesquita fundou a Escola de Arte Dramática em SP e Maria Clara Machado abre o Tablado no RJ. Depois vem Jorge de Andrade, Ariano Suassuna, o Teatro de arena de SP com Augusto Boal, Guarnieri e Oduvaldo (Vianinha) e o grupo Opinião (RJ) de Paulo Pontes, Vianinha e Armando Costa. Em 1965, Show Opinião (Zé Kéti, João do Vale e Maria Betânia) sob a batuta de Boal. No mesmo ano Liberdade, Liberdade no dia de Tiradentes (peça de Millôr e Flávio Rangel) na atuação de Paulo Autran, Tereza Rachel, Nara Leão e Vianinha. Tinha textos de Sócrates, Platão, Martin Luther, Jesus, Castro Alves, Vinícius, Danton, Churchill...1965 marcou com Morte e Vida Severina (João Cabral). Quando a coisa ficou preta (ou verde) no país estreou Roda Viva de Chico e o Balcão de Jean Genet com o primeiro nu frontal no teatro no Brasil (Raul Cortês). Nessa romântica (?) época chegava Hair, em 1970 no Teatro Aquarius, no bairro Bixiga (SP). O musical-rock da Age of Aquarius com músicas de Galt MacDermot trouxe os longos cabelos e roupas despojadas e a luta por vidas, amores e liberdade.

Vejam vocês a vida diferente das nossas, a vida das representações, a outra face que deu encantos e despertou sonhos. O Brasil de 1950-60 era todo de sonhos: Bossa Nova, Cinema Novo de Glauber (uma ideia na cabeça e uma câmera na mão), Niemeyer, Tropicália, Brasil bicampeão mundial de futebol. Jorge, teatro numa hora dessas? - Luís Fernando Veríssimo. Pois é, é o que acabo de me perguntar ao ouvir pela CBN as perspectivas político-econômicas de um país estagnado, com desemprego e inflação em alta, com a credibilidade extremamente abalada nos dirigentes políticos. Deu que num cenário bem otimista o Brasil começa a recuperar seu fôlego em 2017. Oremos, além disso, o que fazer além de desejar que surjam novas lideranças capazes de tirar o atoleiro que nos afoga? Ora, enquanto isso tem a arte e a vida diferente da que é, a vida que poderia ter sido.

 

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