A realização de trilhas nos finais de semana por jipeiros, gaioleiros e motoqueiros, transformou-se em dor de cabeça para agricultores, motoristas e prefeitura municipal. Em busca de trajetos conhecidos como off-road, alguns adeptos da modalidade estão danificando estradas no interior de Passo Fundo.
Uma das mais prejudicadas pela ação deles tem sido a estrada da Usina, na localidade de São João da Bela Vista, saída para Marau. Batizada com este nome por ligar a Usina de Reciclagem de Lixo à RS 324, o local, que recentemente passou por uma obra de recuperação, está praticamente intransitável.
Atendendo aos apelos de agricultores e motoristas, a secretaria municipal do interior havia recuperado, no mês de setembro, um trecho de aproximadamente três quilômetros naquele local. “Fizemos a patrolagem, britagem e passamos o rolo. Deixamos em ótimas condições de trafegabilidade. No final de semana seguinte, que choveu no sábado e no domingo, foram lá e destruíram tudo. Pareciam que haviam largado uns 50 javalis em cima” lamenta o secretário do interior, Antônio Bortolotti.
Um agricultor, de 21 anos, que pediu para não se identificar, disse que a destruição daquele trecho da estrada ocorre com frequência, prejudicando os deslocamentos na região. “Do jeito que deixaram o local, só passa trator' desabafa. O jovem reclama também dos danos provocados nas lavouras. “Fazem trilha por dentro da plantação. Usam como atalho. Não respeitam nada” protesta. Além do trabalho da prefeitura, os próprios moradores já realizaram ações coletivas de recuperação da estrada. Na última delas, adquiririam com recursos próprios 12 cargas de pedras. Um funcionário da Usina de Reciclagem de Lixo, de 49 anos, que também pediu para não se identificar, foi obrigado a aumentar em cerca de seis quilômetros o trajeto de casa até seu local de trabalho para desviar da estrada. “Antes eu saía do bairro São Luiz Gonzaga e cortava caminho pelos trilhos. Agora não tem mais como passar por lá. Está cheio de buracos e valetas. Para chegar até a usina sou obrigado a pegar a RS 324, aumentando em seis quilômetros ” explica.
Estrada Geral
Localizada nos fundos da sede do Caixeiral Campestre Tênis Clube, a Estrada Geral também sofre com a ação de alguns trilheiros nos finais de semana. De acordo com o secretário de obras, no mês de agosto, a prefeitura havia recuperado cerca de três quilômetros da estrada na localidade de Capão Bonito. Pouco tempo depois, o trecho estava novamente em condições precárias. “Aproveitam a chuva para realizarem manobras com as motos e jipes, fazem um estrago” afirma.
Fiscalização
Chefe da Guarda Municipal de Trânsito, órgão responsável pela fiscalização das estradas no interior de Passo Fundo, Ruberson Estieven afirmou que as denúncias sobre os danos provocados pelos trilheiros ainda não chegaram até a Guarda. No entanto, afirmou que o órgão vai entrar em contato com os praticantes para uma conversa. “Primeiramente vamos dialogar com eles e alertá-los sobre suas responsabilidades. Se não surtir efeito, poderemos adotar outras medidas em parceria com a Brigada Militar” afirmou. Segundo ele, os estragos provocados nas estradas pode ser enquadrado na lei 2.848/40 do Código Penal, que trata sobre dano ao patrimônio público, cuja pena prevista é de detenção de seis meses a três anos, mais pagamento de multa.
O que dizem os grupos organizados
Gaioleiros da Lama
Integrante dos Gaioleiros da Lama, Alexandre Sanches, 35 anos, afirma que em Passo Fundo existem mais de 15 grupos praticando a modalidade. Segundo ele, os cinco integrantes dos Gaioleiros passam pela estrada da usina, mas nega a realização de manobras que possam prejudicar a estrada naquele trecho. Disse ainda que o grupo conhece os agricultores da região e respeita as lavouras. Também comentou sobre a possibilidade de a prefeitura providenciar um local adequado para a prática da modalidade. “Seria uma maneira de evitar este tipo de problema” observou.
Trilha Clube Passo Fundo
Ex-presidente do Trilha Clube Passo Fundo, Renato Bellotti afirma que a entidade, criada há seis anos, segue um conjunto de regras para evitar problemas. Os cerca de 150 associados utilizam uniformes, pagam mensalidade e participam de reuniões mensais. Segundo ele, as trilhas somente são realizadas em áreas autorizadas pelos proprietários. “A entidade paga uma pessoa para realizar os reparos nas trilhas, como o conserto nas pontes. Nas reuniões, conscientizamos nossos sócios sobre os cuidados que devem adotar durante a prática da modalidade. Não temos este tipo de problema dentro do grupo. Por outro lado, sabemos de trilheiros que não respeitam regras, invadem lavouras e cortam cerca para soltar o gado” observa.
Pampa Jipe Clube
A entidade se manifestou através de uma nota oficial encaminhada à reportagem.
“O Pampa Jipe Clube, associação sem fins lucrativos, fundada em 1994, tem como objetivo, dentre outras, o lazer esportivo, o convívio social entre familiares e amigos, bem como a convivência com o meio ambiente. A preservação e o respeito ao meio ambiente, bem como os valores morais e éticos, são prioridades para a entidade. Atualmente a entidade conta com aproximadamente 150 pessoas entre associados e colaboradores, os quais desempenham, além das funções institucionais, trabalhos voluntários junto à entidades, como a defesa civil,por exemplo. A utilização de utilitários 4x4, devidamente equipados, já desempenharam atividades sociais diante das mais diversas adversidades. Também são desempenhadas ações beneficentes as quais estão previstas no calendário anual da entidade, como por exemplo, a campanha do agasalho e ações sociais no período do Natal. A sede social conta com área verde preservada, e nesse local são realizadas as reuniões mensais e os eventos off road’s programados. Todo o evento ocorrido fora dos limites da sede da entidade, estão amparados de documentação junto aos proprietários de terras, os quais em sua maioria mantém algum vínculo com a entidade”.