A gagueira, segundo o Instituto Brasileiro de Fluência, é cientificamente considerada como distúrbio ou transtorno de fluência da fala. O problema central na gagueira consiste em uma dificuldade do cérebro para sinalizar o término de um som ou uma sílaba e passar para o próximo. Desta forma, a pessoa consegue iniciar a palavra, mas fica presa em algum som ou sílaba (geralmente o primeiro) até que o cérebro consiga gerar o comando necessário para dar prosseguimento com o restante da palavra.
Conforme descrito pelo Instituto, a dificuldade do cérebro em gerar comandos para terminar um som ou sílaba no tempo previsto manifesta-se externamente como bloqueios, prolongamentos e/ou repetições de sons ou sílabas. E, diferente do que muitas pessoas possam pensar, o problema é frequente, atingindo um grande número de pessoas. Falar com fluência é uma habilidade linguística que a maioria da população domina sem maiores dificuldades, porém todos os falantes apresentam pequenas interrupções, breves esquecimentos e reformulações na sua fala que ocorrem aleatoriamente. Quando estas pausas e reformulações tornam-se frequentes e acabam interrompendo o fluxo de fala do indivíduo de maneira sistemática, temos um quadro de disfluência mais conhecido como gagueira. A gagueira caracteriza-se por repetições e prolongamentos de sílabas ou palavras que podem estar acompanhadas por outros movimentos corporais e emoções de natureza negativa como medo ou irritação.
Segundo dados do próprio instituto, pelo menos 1.700.000 pessoas em nosso país apresentam algum grau de gagueira na sua comunicação. Entre quatro pessoas que gaguejam, uma é mulher, ou seja, é um distúrbio comunicativo predominante no sexo masculino.
A gagueira geralmente surge antes da puberdade, entre dois e cinco anos de idade, sem danos cerebrais ou causas conhecidas. Existe também a gagueira neurogênica que ocorre após dano cerebral, como nos casos de Acidentes Vasculares Encefálicos ou Traumatismos Cranianos. Assim, temos a gagueira do desenvolvimento e a gagueira adquirida. Quando a gagueira do desenvolvimento persiste e não há acompanhamento fonoaudiológico, esta pode ocasionar inúmeras dificuldades na vida social, emocional, escolar e até familiar do indivíduo que gagueja.
Ao longo dos tempos várias teorias sobre a origem da gagueira foram apresentadas. Na Grécia Antiga teorias versavam sobre a “aspereza ou secura da língua”. No século 19, acreditava-se em uma anormalidade do aparelho fonador (boca e garganta). No século 20 pensou-se numa causa psicológica para a gagueira, ou ainda que a gagueira seria um comportamento aprendido resultante de estímulos desfavoráveis do ambiente. Atualmente, as pesquisas apontam para a transmissão genética e estudos com técnicas de imageamento não invasivo do cérebro tem mostrado que mudanças estruturais e funcionais no cérebro do gago poderiam explicar a disfluência na fala.
É importante saber que existem alguns graus de severidade da gagueira conforme o número de pausas, bloqueios e repetições encontrados na fala do indivíduo gago. Quando a gagueira recebe acompanhamento fonoaudiológico precoce, as chances de sucesso no tratamento são enormes. Agora, em uma intervenção mais tardia, torna-se difícil do paciente se ver totalmente livre da gagueira. No entanto, existem técnicas fonoaudiológicas que podem minimizar os sintomas gagos permitindo assim, uma convivência mais tranquila com esta desordem de fluência. Ou seja, sempre existem possibilidades de melhorar a fala do indivíduo que gagueja.
Importante lembrar que a gagueira não se relaciona com a habilidade intelectual do ser humano. Muitos gagos notabilizaram-se pela sua inteligência e talento ao longo da história como Charles Darwin, Winston Churchill, Marilyn Monroe, Nelson Gonçalves e Machado de Assis. O filme o Discurso do Rei, vencedor do Oscar, conta a história verídica do Rei George VI da Inglaterra, que era gago e recebe a ajuda de um terapeuta da fala para conseguir proferir seu discurso. Pessoas mundialmente famosas também admitem ser gagas, como Julia Roberts, Samuel L. Jackson, Bruce Willis e o ator brasileiro Murilo Benício.
A gagueira deve ser diagnosticada e tratada precocemente pelo fonoaudiólogo podendo assim ser corrigida ou minimizada, permitindo ao indivíduo que gagueja uma vida comunicativa saudável, equilibrada e de qualidade. O indivíduo que gagueja deve ter uma trajetória escolar tranquila, relacionamentos sociais saudáveis e uma boa colocação no mercado de trabalho, comunicando-se com eficiência com seus pares, como qualquer outra pessoa.