A rememoração de um encontro casual entre quatro Odilons (Odilon Garcez Ayres, o escritor, Odilon Soares de Lima, o vereador, Odilon Mello Garcia, o cabeleireiro, e Odilon de Witt, o lojista), nos anos 1970, em uma esquina do centro de Passo Fundo, cruzamento das ruas Moron e Capitão Eleuthério, foi o insight que levou o escritor Odilon Garcez Ayres a se embrenhar em uma aventura detetivesca nos anais da história local para elucidar a questão que paira sobre o verdadeiro homenageado com a designação do logradouro Capitão Eleuthério: Eleuthério José Gonçalves ou Elautério Santos Lima? Afinal, a Lei nº 3.634, de 26 de setembro de 2000, está equivocada? Quem foram os responsáveis pelo equívoco? Há necessidade de retificação da mencionada lei? Ou, pelo menos, da sua justificativa?
Odilon Garcez Ayres usou alguns anos da sua vida na condução da pesquisa que, magistralmente, sintetizou nas 80 páginas do livro “Herói de São Sepé & Passo Fundo”, que foi lançado no último dia 4, na 29ª Feira do Livro de Passo Fundo. Foram meses e mais meses gastos em leituras, em viagens, consultando fontes primárias (documentos originais) e secundárias (obras sobre a história local), redigindo notas e esboçando o ensaio que resultou no mencionado livro. Isso em meio ao percalço de ver todo o trabalho que vinha digitando num computador pessoal desaparecer em virtude de um problema qualquer com a máquina em uso, que, apesar do esforço despendido por um especialista em informática, não pode ser recuperado. Desiludido com o acontecido, Odilon Garcez Ayres quase capitulou. Felizmente para nós, passado o interregno de um ano, o escritor retomou o trabalho e reconstruiu a obra perdida.
Em exaustivo trabalho de historiografia, embasado em consultas a fontes primárias e derivadas, seguindo as pistas deixadas por Antonino Xavier e Oliveira, Odilon Garcez Ayres, com a mesma verve que o notabilizara como escritor de romances e ensaios históricos - Oché y Sefé Tiarayú (2006) e Caboclo Serrano em O Puchirão do Gé Picaço nas Revoluções de 1923, 30 e 32 (2008) - elucidou a intricada questão, deixando, nessa nova obra, “Herói de São Sepé & Passo Fundo”, uma contribuição seminal para a história de Passo Fundo.
Afinal, qual dos Eleuthérios os passo-fundenses homenageiam? Quem comandava as Forças Republicanas em Passo Fundo: Elautério Santos Lima ou Eleuthério José Gonçalves? Um desses personagens, quiçá, apesar das referências e a pretensa documentação historiográfica, a bem da verdade, talvez nem tenha existido.
Odilon Garcez Ayres lança novas luzes sobre a Revolução Federalista de 1893-1895, seus desdobramentos fraticidas locais, e o nosso lendário Capitão Eleuthério, que veio perder a vida no Combate do Guamirim (guaviramí). Uma morte heroica não pode ser atribuída a duas pessoas, frisa o autor.
A reprodução, sem maior criticismo, a partir de relatos dos nossos historiadores do passado, caso dos afamados livros de Delma Rosendo Gehm, segundo Odilon Garcez Ayres, pode ter contribuído para o poder público municipal ter sido induzido ao erro imperdoável de homenagear dois Eleuthérios com o nome de uma mesma Rua. Sim, na visão do escritor e pela fundamentação que foi posta na obra em pauta, cabe ao poder público municipal retificar a Lei nº 3.634, de 26 de setembro de 2000, apondo ali somente o nome do Capitão Eleuthério ... . Com a palavra os nossos nobres edis. Odilon Garcez Ayres fez a sua parte.
Não, prezado leitor! Não vou lhe tirar a surpresa da descoberta e nem o prazer de ver sendo construída a fundamentação historiográfica que deu a certeza a Odilon Garcez Ayres qual dos dois Eleuthérios é merecedor de ser homenageado com nome de Rua em Passo Fundo. Apenas sugiro: embarque nessa aventura com Odilon Garcez Ayres e desfrute da boa prosa desse escritor. O desfecho, talvez não sem controvérsias, o surpreenderá. Ainda há tempo, passe no Bourbon Shopping e adquira o seu exemplar no estande da Academia Passo-Fundense de Letras. A 29ª Feira do Livro de Passo Fundo vai até domingo (8).
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