OPINIÃO

Ciranda

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Essa ciranda quem me deu foi Lia que mora na Ilha de Itamaracá, essa ciranda quem me deu foi Lia que mora na Ilha de Itamaracá...saudade do Farol da Barra, saudade de Itapoã, saudade do Nosso Senhor do Bom Fim, saudade de Caetano, saudade de Gil, saudade de Caymi eh Dorival, saudade de Capinam, saudade de Baiaco e Sapatão, saudade de Betânia e Gal, da Mãe Menininha... assim se manifestava o genial Chico Anísio (Baiano) juntamente com Arnaud Rodrigues (Paulinho) quando nos brindavam com Baiano e os Novos Caetanos em Chico City. Falavam da terra que amam e que deixaram, os olhos de Chico mostravam sua alma e assim, talvez, a gente conhece as pessoas, olhando em seus olhos. A gente tem saudade de muitas coisas que nos deixaram ou que a gente deixou. Uma dessas saudades que me habita, saudade recente, é do espaço 730 da Rádio Planalto nas quartas em que sentavam à mesa alguns dos expoentes da sociedade passo-fundense, cada qual com seu estilo em um programa sem pauta. Por ali desfilou a genialidade de Edson Scandolara, a cultura de José Osmar Teixeira, a sagacidade de Marcos Susin, a técnica e o conhecimento de Elmar Floss, o deboche inteligente de Claudio Della Méa, o sentido humanitário deste signatário e a percepção política local de Tadeu Karzeski. Os debatedores se revezavam e o espaço era disputado e, o mais importante, tinha um público pensador cativo que participava direta ou indiretamente.

Quando o assunto versava sobre as origens passo-fundenses ninguém entendia mais do César Meclo Lopes e Scandolara. Cesar Meclo, como o chamávamos gostava de falar assuntos práticos e eu e Osmar amiúde tratávamos de filosofia e seus efeitos. Certa feita um ouvinte reclamou que estávamos fazendo uma gritaria e falando mal do governo do PT e que éramos sectários. Meclo respondeu: o navio está adernando, se a gente vai gritar ou tocar música como o pessoal do Titanic é opção de cada um. Resposta genial, do nível do Espaço 730. Claro que tenho saudade dessa oportunidade de conversarmos entre amigos, de pensamentos diferentes e que de alguma forma contribuía para a sociedade. Mas, a o sentimento maior é da lacuna deixada pela perda da convivência com as pessoas citadas, umas de forma definitiva (Edson e Meclo) e outras pelo relaxamento. Vai em paz, Meclo debochado, lamentamos tua ausência. Que se há de fazer?

Gilberto era um dínamo, taxista foi assaltado e levou um tiro que transfixou sua coluna. Restou vivo e paraplégico. Após o susto inicial enfrentou os demônios: não mais caminhar, restar dependente dos outros, escaras, diversas internações. Talvez aí, nesse instante, o de não mais ser independente, Gilberto tenha morrido pela primeira vez. Esta semana Gilberto morreu de vez. Fiquei com a percepção de que era sua vontade. Meu pai dizia e ficou marcado em mim: se seu não puder ajudar tenha a certeza de que não vou atrapalhar. Acho que Gilberto se sentia atrapalhando. Não é verdade caro Gilberto, muita gente te gostava, a gente não queria que tu fosses embora dessa maneira. A gente custa muito a entender o mundo. Pensei muito nisso e no livro de Vítor Ramil – a Nascer Leva Tempo.

 

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