Uma viagem em meio aos estudantes do curso de Administração da IMED fez, em um instante, que eu embarcasse em uma história cheia de novas percepções. Através da visão destes jovens que compartilho meus dias, a descoberta de outros mundos, o vislumbre de diferentes possibilidades e desafios e uma pergunta que me vem em mente: por que voltar?
Com itinerário rodoviário, saindo de Passo Fundo com destino à Mendonza na Argentina, que se apresenta como uma miragem, com seus parques, praças e ciclovias. Muitas árvores irrigadas em pleno centro urbano para transformar a paisagem desértica na cidade que, segundo sua população, é a segunda mais arborizada do mundo. E então, o ônibus segue, repleto de ansiedade, para um dos destinos mais esperados por todos, a Cordilheira dos Andes, com seus caminhos incas e o fascínio que a montanha exerce sobre as pessoas que a desbravam.
Na mente de todos, as diferenças, os contrastes e as comparações desses novos cenários com o que acontece com o Brasil de hoje ou o que se passa em nosso estado. Os estudantes se deparam com suas primeiras operações de câmbio: primeiro o real por pesos argentinos e então, o real por pesos chilenos. As perguntas são inevitáveis – o que é ter uma moeda valorizada? Por que vale mais? E, como professores, temos a real oportunidade de transmitir alguns conhecimentos, adquiridos na vida acadêmica e na vida profissional que vão consolidar as experiências de mundo desses jovens.
Assim, envoltos em uma atmosfera diferente, as discussões viajam em torno do que agora podem observar. O Chile é um dos melhores países da América Latina em termos de competitividade, qualidade de vida, estabilidade política, globalização, liberdade política (incontestável, pois eles mesmos se intitulam um país socialista/capitalista) e percepção de corrupção, além do índice de pobreza ser considerado extremamente baixo. A capital, Santiago, concentra as maiores riquezas do país e também o maior número de empregos. O salário mínimo chileno é de 250 mil pesos ou R$1.450,00. Vale destacar que, 45% das transações internacionais do Chile tem os Estados Unidos como destino, e o povo parece muito confiante na tal Aliança Trans-Pacífico.
O governo aumentou o Imposto de Valor Agregado (IVA) em 1% para financiar a educação do país: irá pagar os professores da rede municipal e dos estados da federação. O Chile tem 1% de taxa de analfabetismo. O povo, há tempos, fala espanhol e francês e, com o advento da Aliança Trans-Pacífico, a busca pelo inglês e pelo mandarim é massiva. O trabalhador paga a previdência que é exclusivamente privada e também a assistência à saúde e, existem movimentos populares para tornar a previdência pública. Quanto à gestão, a prática de realizar licitações internacionais é praxe na busca do melhor custo/benefício. E um dado interessante, é que quando se elegeu presidente, Michele Bachelet, tinha mais de 52% de aprovação popular, índice que hoje se aproxima de 20%.
No meio de todas essas considerações, uma grande lição de empreendedorismo: a vinícola Concha y Toro e o Casillero del Diablo, que tornou-se a maior vinícola da América Latina, uma S.A. de capital fechado que fatura bilhões de dólares e produz 300 milhões de litros de vinho por ano. Vende para 137 países, possui 11 mil hectares de vinhedos plantados, 80% destes no Chile, 15% em Mendonza na Argentina e 5% na Califórnia, nos Estados Unidos. Emprega 100 mil colaboradores e todas suas videiras são regadas por gotejamento, com tecnologia importada de Israel. Uma lição que nenhum professor de Administração ensina, só a experiência e olhos e ouvidos atentos. Os melhores vinhos ficavam em um espaço chamado Casa do Diabo, mas descobre-se que isso não passava de um mito, criado pelo dono da empresa depois de ser assaltado pela segunda vez. Só degustando um delicioso Reservado para entender de onde vêm tantas lições.
Viajando apreendemos. Viajando crescemos. E assim, respondo à pergunta do porquê voltar e minha mente se aquieta. Voltamos porque estamos maiores, cheios de novas percepções e sensações, que somente as horas de viagem nos proporcionam. Apreendemos com as possibilidades e os desafios dos outros, com as surpresas da convivência e com as barreiras que nos permitimos transpor e vivenciar. Nossa viagem continua e, dentro de alguns dias, voltaremos para nossas vidas cotidianas, mas agora enriquecidos por sólidas experiências. Obrigado aos alunos e amigos que embarcaram conosco nessa viagem e, na terça-feira, de modo notável, homenagearam o professor Jean Araldi pela passagem de seu aniversário, de uma forma fraterna e especial. Gestos espontâneos que fortalecem nossas relações e nos fazem acreditar que estamos no caminho certo, aliás... com muita estrada pela frente!
Adriano é Coordenador do Curso de Administração da IMED