Quando era criança gostava de assistir ao Ringue Doze, espetáculo circense (simulação) de luta livre que ocorria nas noites de domingo no Ginásio da Brigada Militar, em Porto Alegre. Era depois de Perdidos no Espaço, expressão tão conveniente nesses tempos bicudos. Transmitido pela TV Gaúcha, canal 12 era narrado pelo excelente Éldio Macedo. Tinha Scaramouch, Ringo, Verdugo, Fantomas, Leal, Sérgio, Leopardo e Ted Boy Marino...entre tantos. Era só porrada, ginga, manha, gira teta, chute no saco. A gente se divertia, geralmente o mocinho vencia. Essa semana o espetáculo circense aconteceu novamente na Câmara dos Deputados, num nível estranho. Os contendores chamavam a si mesmos de Vossa Excelência e davam golpes baixos, bofetes, tapas, todos engravatados e merecedores nos nossos votos. Essas imagens correram o mundo de forma gratuita. Para que contratar canal pago para assistir esse tipo de espetáculo quando nossos mandatários mandam ver de forma gratuita? Ali, não está em jogo os interesses do sofrido povo brasileiro, está em jogo as artimanhas para beneficiar Eduardo Cunha ou o governo PT.
Independente das cores partidárias ou ideologias vamos convir que atingimos o máximo (sublimamos). O Executivo reza com todo o tipo de denúncia: assaltos, enriquecimentos ilícitos, contas e aplicações em paraísos fiscais, imagem depreciada interna e externamente, obras que não se completam, cortes em orçamento, política econômica que faz o PIB decrescer consecutivamente. O ex-presidente nada sabia e a atual comandante reza ter sido enganada pelos lobos. Falta vacina, subiu o combustível, a energia está mais cara, dinheiro para a saúde não tem. O Legislativo oferece todos os matizes das malandragens, independente se o cabra é de um partido dito de direita ou esquerda. Se tu quiseres aprender como enganar as pessoas é só prestar atenção à TV Câmara ou TV Senado. Sobre o Judiciário há denúncias de pareceres favoráveis a quem indicou este ou aquele juiz, há ingerência de um poder sobre outro, tudo de uma maneira estranha e solerte. Deve existir, evidentemente, pessoas de valor que nos representem de verdade. Afinal do que é constituído a maioria do povo brasileiro? De gente que paga imposto, que não sonega, que conta com o minguado salário, que compra parceladamente. Onde estão os iguais a nós? Por que suas vozes não se fazem ouvir? Por que tudo parece defesa de interesses próprios?
Você aí que independentemente do que assiste e se noticia defende ardorosamente o status quo, você que não aceita opiniões diferentes sobre esses descalabros todos, você que entende que correr toda essa gente perniciosa e que não nos representa é puro golpe, cá entre nós: que fizemos do Brasil? Nossos filhos não merecem isso que aí está, mas nós merecemos porque aí colocamos essa escumalha toda. Por nossos filhos, se fizemos essa merda, podemos varrê-la, antes que eles (nossos filhos) joguem essa fedentina toda nas nossas caras.
Em tempo: ao assistirmos ao Ringue Doze a gente se divertia e torcia para o mocinho e agora a gente não se diverte nem um pouco, mesmo porque não sabemos se há mocinhos.
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