OPINIÃO

Jorge obsoleto

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Não sou doutor, não fiz doutorado, sou médico. Não sou professor pois, professor é aquele que tudo sabe e como estudo diariamente é porque me falta muito saber. A medicina que pratico foi calcada em mim pelos meus pais. Minha mãe amava o médico Alberto Limonta, personagem do folhetim O Direito de Nascer. Albertinho quase foi abortado, doado em criança, criado por uma mãe preta e pobre estudou em escolas públicas e se tornou um grande médico, afetuoso e humanitário. Minha mãe sonhava com um filho assim, dessa dimensão. Meu pai admirava pessoas voluntariosas e despreendidas, pessoas que se doavam, diletantes. Meu pai imaginava um mundo de pessoas que se congraçavam amiudemente.

Eu tenho um sonho, dizia Martin Luther King. Depois John Lennon musicou essa frase compondo Imagine. Eles sonhavam e imaginavam um mundo quase perfeito conduzido pelas pessoas. Mas, pessoas são pessoas e pessoas têm defeitos. Erramos muito porque somos humano e, às vezes, demasiadamente humanos, isto é, além da conta. Por não sabermos viver adequadamente em sociedade delegamos ao Estado o delineamento de nossas condutas por um Contrato Social (Jean-Jacques Rousseau). Agora, os empreendedores querem a presença de um estado mínimo (e não paquidérmico – Leviathan, Thomas Hobbes) em seus negócios - menos interferência do governo. Então em uma hora o estado é necessário e desejado e em outra, não. É, somos realmente demasiadamente humanos.

Hoje o mundo é high-tech, hashtag e o escambau, o mundo é das máquinas e dos softwares. Há 130 mil estudantes universitários de medicina nas 247 faculdades Brasil a dentro e se formarão vinte e sete mil novos médicos a cada ano. Eu queria saber dos doutores e dos professores (aqueles que tudo sabem) onde é que essa gente vai trabalhar em trinta anos. A engenharia, em todos os seus ramos, vai dirigir nossos destinos. Engenharia de alimentos porque é preciso produzir; Engenharia Ambiental porque é preciso salvar o planeta; Engenharia para produção de energia; Engenharia Civil para transformar as cidades em auto-suficientes; Biomedicina que vai controlar tumores, diabete, hipertensão e alergias; Engenharia Mecânica produzirá veículos que evitarão colisões e será  movidos a pilotos automáticos – tu entras no veículo e vais repousando até o destino. Cada vez mais máquinas, mais automações e menos necessidades para trabalhos manuais ou humanos em qualquer esfera que imaginemos.

Não sou futurista e apocalíptico, criamos as máquinas para que elas cuidem de nós pela baixa aptidão de convivermos juntos numa boa. É o Admirável Mundo Novo, mundo moderno, mundo tecnológico – cada vez mais doutor, cada vez menos Jorge.

 

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