OPINIÃO

Hollies

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Há uma música antiga do grupo inglês The Hollies em que diz: às vezes, tudo o que eu preciso é o ar para respirar e você para amar (sometimes, all I need is the air that I breath and to love you). Cantava assim, baixinho, juntinho à garota amada, exatamente como você deve ter feito, não é mesmo?

Além de estar vivendo ao lado das pessoas que a gente ama, o que é mesmo que a gente precisa para se sentir feliz? Por que passamos todo o tempo em desenfreada corrida buscando algo, qualquer coisa? Será que não há tempo para que se grite – pare o mundo que eu quero descer (Sérgio Brito)? A gente corre atrás da grana, grana para comprar coisas, grana para pagar contas, para bancar viagens. A gente corre o tempo inteiro para juntar grana, grana para garantir viver o quase inexistente tempo que nos restou. A gente corre atrás do dinheiro e quando a gente obtém, ele nunca devolve aquilo que nos levou: o brilho dos olhos, a cadência das artérias, o preto dos cabelos, o gosto pela vida, a coerência e as esperanças.

Olho para alguns de meus desinteressados alunos e me pergunto a razão de ainda ser professor. Olho nas páginas dos jornais locais e percebo três jovens assassinados com tiros na cabeça, decadência total de valores humanos; Olho outros três que perderam a vida em acidentes de trânsito, uns por tragédia, outros por negligência e me sinto incapaz como cirurgião do trauma, a incapacidade de atuar no desespero, à beira do milagre, confiando na rapidez do raciocínio e de manobras cirúrgicas. No fim, o que tiver de ser, será, imponderavelmente. O extremismo militar-religioso mata inocentes no mundo todo, geralmente jovens também, com bombas, fuzilamentos ou ataques aéreos. Enriquecem os que vendem armas. Crianças morrem de fome e de frio, velhos morrem no abandono. O que se há de fazer em relação a isso tudo? E por que não fazemos o que deve ser feito?

Qual tipo de mundo julgávamos capazes de construir e declinamos disso, pergunto a minha geração, essa que tem entre 60-70 anos? Por que não conseguimos deixar um legado de paz, por que sentimos esse vazio, o vazio da incapacidade? O desatino aumenta ao pensar no mundo que deixaremos aos filhos, quando a gente não mais estiver para tentar protegê-los. Não, absolutamente não estou na andropausa, estou somente pensando na minha adolescência e na imaginação que tinha de um mundo primaveril, mundo de sorrisos e abraços, quase infanto-juvenil onde habitassem coisas simples e bonitas como o ar para respirar e você para me amar.

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