OPINIÃO

A Batalha de Stalingrado

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Foi por ignorar El Niño, certamente, que Napoleão Bonaparte declarou: “Circunstâncias? Eu faço as circunstâncias!” Investiu na campanha contra a Rússia, em 1812, e acabou derrotado pelo “General Inverno”. Tal qual uma tragédia grega, em 1942, foi a vez dos alemães terem o mesmo destino, quando tentaram tomar Stalingrado.
Stalingrado, originalmente Tsaritsyn e hoje Volgogrado, foi mais uma tantas cidades ao longo do Volga, que, após a revolução Bolchevique de 1917-1920, acabaram renomeadas para glorificar as lideranças comunistas e consolidar o culto à personalidade que caracterizou a era Stalin. Pela sua posição geográfica, é um local de violento contraste climático entre o verão e o inverno, que se torna ainda mais acentuado por influência do fenômeno El Niño.

Hitler decidiu atacar a Rússia. Com a ajuda de alguns países - Ucrânia, Romênia e Hungria- a “máquina de guerra alemã” marchou para o interior da Rússia, no verão de 1941. Os alemães chegaram a Moscou no fim do verão, porém não conseguiram entrar na cidade. Nesse meio tempo, enquanto os seus generais queriam mover as tropas para leste da fronte de guerra, Hitler ordenou a divisão das tropas rumo ao sul e para sudeste. Com o inverno se aproximando e sob um forte ataque russo os alemães bateram em retirada, contabilizando, na primavera de 1942, umas 800 mil baixas. Mais ao sul, os alemães avançaram em direção à Criméia e as montanhas do Cáucaso, em maio de 1942. Entre os objetivos: tomar Stalingrado. Encarregado da missão, o General Friederich Paulus, Chefe do Sexto Exército, que havia se notabilizado, em 1940, por dirigir as tropas alemãs que repeliram uma contraofensiva dos aliados, na França. Enviado para o sul da Rússia no verão de 1942, o General Paulus avançou rapidamente pela margem leste do Danúbio, chegando às vizinhanças do Volga no fim de agosto.

No Kremlin, Stalin determinou que a cidade que levava o seu nome não iria se render de jeito nenhum. Em setembro e outubro de 1942 as ruas de Stalingrado transformaram-se em campos de guerra. Mesmo com muitas baixas dos soviéticos, os alemães não conseguiram dominar a cidade. Vendo que a batalha de Stalingrado começava a se tornar uma coisa sem sentido, com perdas de homens e gastos de materiais, Paulus e outros generais tentaram persuadir Hitler a uma retirada, antes da chegada do inverno. Hitler não se sensibilizou. Parecia obcecado em conquistar um alvo que a maioria dos analistas militares não julgava estratégico na ocasião.

O demorado e custoso ataque a Stalingrado forçava os alemães a permanecerem no território inimigo. Os generais germânicos estavam temerosos em ficar longe de suprimentos, de reforços e, ainda por cima, sob espreita do “legendário aliado” russo: o inverno. No fim de outubro de 1942, o Volga começou a congelar, dando indícios de como seria o inverno. De novembro de 1942 até janeiro de 1943, período crucial de batalhas em Stalingrado e da capitulação alemã, as condições meteorológicas foram as mais severas possíveis. Os registros indicam uma estação marcada por anomalias climáticas extremas. Hoje se sabe que a dissipação da fase quente do fenômeno El Niño-Oscilação Sul é responsável por invernos severos na Europa continental, com tempestades de neve e ondas de frio. E este foi o caso do inverno de 1942/43, que pegou em cheio a mudança de El Niño para La Niña.

Quando Hitler tomou consciência da seriedade da situação, em novembro de 1942, ordenou que a divisão do General Erich Manstein tentasse o resgate das tropas de Paulus. Sem saída, acossados por inclemências meteorológicas de toda ordem, Hitler e seus generais resolveram sacrificar as tropas em Stalingrado, que manteriam os russos ocupados, durante a retirada alemã do Cáucaso. Finalmente, em 31 de janeiro de 1943, após sucessivas derrotas, o General Paulus capitulou. Foi um patético fracasso, que sob os auspícios de El Niño/La Niña sinalizava o começo do fim da era Hitler.

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