Banco de Tecidos do HSVP completa 10 anos

Desde sua abertura, em 2005, mais de 4 mil pessoas receberam enxerto ósseo.

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A captação, o processamento e o transplante de órgãos são procedimentos de alta complexidade, que exigem estrutura técnica e equipe preparada para elaborar os processos. O Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo possui o único Banco de Tecidos Musculoesqueléticos (BTME) da região sul do Brasil, que neste ano completa 10 anos de atuação. Desde sua abertura, em 2005, mais de 4 mil pessoas receberam enxerto ósseo. A equipe atualmente é composta pelo diretor técnico Dr. Francisco Neto, diretor técnico substituto, Dr. Milton Roos, Bióloga Gisela Machado de Albuquerque, secretária Solange Marcon e os Enfermeiros Maurício Luciano Zangirolami e Anderson Flores.

Pioneirismo presente no seu histórico
A equipe do Banco de Tecidos Musculoesqueléticos conta que tudo iniciou em 1982 através de uma iniciativa pioneira do Dr. Milton Roos. Numa época de literatura escassa e a falta de uma regulamentação específica para os serviços de Bancos de Tecidos, foi preciso se valer das experiências internacionais, como o Banco de Tecidos Central, de Moscou, e de publicações Cubanas, se adequando à realidade local. “Com o desenvolvimento e propagação de outros Bancos de Tecidos Musculoesqueléticos pelo Brasil, houve necessidade, por parte dos órgãos reguladores, Ministério da Saúde, Sistema Nacional de Transplantes e Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de se criar legislações para adequação sanitária, de infraestrutura e de gestão para estes serviços. A partir desta regulamentação, em 2002 os Bancos de Tecidos são oficialmente instituídos no país e passam a ser submetidos a inspeções regulares, para manutenção do seu funcionamento”, explicam os profissionais, salientando que assim, em outubro de 2005, após as adequações necessárias, o BTME/HSVP recebeu a autorização para o seu funcionamento dentro dos padrões exigidos.

Estrutura de alta complexidade e equipe capacitada
Desde então, com base em normas e diretrizes estabelecidas por órgãos nacionais e internacionais, como a AATB (American Association of Tissue Banking), o BTME/HSVP desenvolve, através do seu Sistema de Gestão da Qualidade, um rigoroso controle de seus processos, qualificando os mesmos a fim de garantir a distribuição de tecidos com segurança e qualidade para o tratamento de pacientes da área de traumato-orotopedia e odontologia, minimizando os riscos associados ao material biológico humano. “O Banco de Tecidos é o estabelecimento que, com recursos humanos e infraestrutura adequadas, realiza triagem clínica e laboratorial dos doadores, retirada, identificação, transporte, processamento, armazenamento e disponibilização dos tecidos”, informam, destacando ainda que para realizar suas atividades o BTME conta com uma equipe multiprofissional composta por bióloga, enfermeiros, técnico de enfermagem, secretária e médicos ortopedistas. Além destes, a equipe conta com mais de 20 profissionais para os procedimentos de captação de tecido musculoesquelético.

Equipes parceiras
Com o objetivo de melhorar os índices de captação, foram estabelecidos convênios de cooperação entre o HSVP e os hospitais Tacchini, de Bento Gonçalves, e Pompéia, de Caxias do Sul, respectivamente nos anos de 2009 e 2011. Desta forma, as equipes destes hospitais foram capacitadas em relação ao processo de captação de tecidos musculoesqueléticos, contribuindo desde então para o aumento no número de captações realizadas.

Único Banco de Tecidos do sul do país
Com base nas experiências exitosas e sendo o BTME o único Banco de Tecidos Musculoesqueléticos em atividade na região sul do país, o serviço se consolidou como referência na sua área de atuação e busca capacitar mais equipes de captação com o intuito de minorar a lista de espera para os transplantes de tecido musculoesquelético. “Desde 2005 o BTME registrou 86 doadores falecidos e 347 doações em vida. Isso resultou em 1417 tecidos ortopédicos e 4811 tecidos odontológicos. Sendo que até novembro de 2015 foram implantados 745 segmentos de tecido musculoesquelético”.

Doação e transplantes

Diferentemente de outros órgãos e tecidos, que tem sua lista de espera regulada pelas Centrais de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos de cada estado, os Bancos de Tecidos Musculoesqueléticos têm autonomia para gerenciar a lista de espera para estes tecidos específicos com base nos critérios e legislações dos órgãos reguladores. Os profissionais explicam que o cirurgião, ao identificar a necessidade de seu paciente utilizar enxerto ósseo, encaminha ao Banco de Tecidos um formulário de solicitação identificando o tipo e a quantidade de material que será necessário para a cirurgia, e os dados do paciente. Em seguida, as solicitações são avaliadas pelo diretor técnico do BTME e são classificadas conforme a gravidade dos casos e ordem cronológica dos pacientes. “O Banco de tecidos entrará em contato com o profissional transplantador para avisar da disponibilidade do tecido solicitado, em caso de indisponibilidade o cirurgião também é comunicado e o paciente entra em lista de espera. Se o profissional transplantador possui mais de um paciente em fila de espera ele é responsável por determinar a prioridade entre seus pacientes, em conformidade com a avaliação do diretor técnico”, salientam, enfatizando que a utilização destes tecidos só poderá ser realizada por serviços e profissionais de saúde também autorizados e cadastrados pela CGSNT/MS. “Este é o único Banco de Tecidos Musculoesqueléticos em atividade no sul do país, sendo assim, a maior demanda para transplantes provem dos estados localizados nesta região, mas havendo possibilidade o BTME pode e deve fornecer tecidos ósseos para todo o Brasil”.

O transplante e a doação só são possíveis graças ao gesto de solidariedade dos doadores. Nelci Klein, em 2013, optou pela doação dos órgãos do marido Firmino Luz Klien e conta que mesmo com o sofrimento e dor que estava sentindo, não podia ser egoísta e negar o desejo do esposo, que em vida manifestou a vontade de ser doador. “Em vinte anos de convivência ele sempre falou que gostaria de doar seus órgãos, então a decisão foi mais fácil. A equipe também passou segurança e tranquilidade, e no meio da dor da perda de um ente querido, você encontra forças para fazer esse gesto de solidariedade e ajudar outras pessoas”, conta Nelci, destacando ainda que o fato de saber que a doação pode salvar e transformar outras vidas amenizou o momento de sofrivelmente.

A solidariedade de um doador ajudou Zolair de Fátima Lopes Machado, 45 anos, que depois de sofrer um acidente precisou de um transplante de tendões. Ontem, 23 de novembro ela recebeu três tendões e daqui alguns meses receberá outros três. Para ela o transplante foi fundamental pois, vai lhe devolver a qualidade de vida. “Eu tinha que caminhar com a joelheira, e também tinha algumas restrições de movimentos. Com certeza a cirurgia vai mudar a minha vida, pois vou poder caminhar normalmente. Estou me sentindo bem e a cirurgia foi bem tranquila”, conta Zolair, que incentiva o gesto da doação. “Eu participei da Caminhada pela doação de órgãos mesmo com a perna machucada. Levei toda a família e incentivo a doação, pois sem ela eu não teria a chance de voltar a caminhar normalmente”.

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