Alunos de doutorado e mestrado dos cursos de informática e matemática trocam informações e debatem sobre programação de computadores. Em um determinado momento, um menino, de apenas 12 anos, com voz tímida e baixa, interfere na conversa para defender com desenvoltura e conhecimento sua opinião sobre o assunto. Aluno da escola Guaraci Barroso Marinho, no bairro José Alexandre Zachia, Vinícius Faller de Oliveira é o único estudante da rede municipal de ensino a fazer parte do seleto Grupo de Estudos e Pesquisa de Inclusão Digital (GEPID), da Universidade de Passo Fundo.
Enquanto a maioria dos meninos de sua idade dedica horas em frente ao computador desvendando caminhos e superando inimigos virtuais na infinidade de games disponíveis no mercado, Vinícius está no lado oposto. O desafio dele é criar os próprios jogos. Um talento descoberto no projeto Escola de Hackers, desenvolvido há dois anos pela Prefeitura Municipal de Passo Fundo, em parceria com UPF, Faculdade Imed e Instituto Federal Sul-rio-grandense (Ifsul). Direcionado para escolas da rede municipal, a iniciativa já envolveu aproximadamente 900 alunos de 20 escolas. Nas oficinas eles aprendem a superar desafios lógicos usando o Scratch. Uma plataforma de programação com finalidade educativa que dispensa conhecimento prévio de outras linguagens de programação.
Bastou um dia de oficina na escola Guaraci Barroso Marinho para os monitores perceberam que estavam diante de um prodígio. Enquanto a turma acompanhava atentamente as orientações sobre os primeiros passos do Scratch, Vinícius não só havia concluído a tarefa solicitada como realizado outras ações. Na mesma aula já estava auxiliando os colegas junto com os monitores.
O estudante diz ter adquirido o conhecimento de maneira solitária em casa, recorrendo apenas aos tutoriais disponíveis na internet. “Eu já conhecia o programa há um ano. Descobri por conta própria e passei a criar meus jogos, minhas animações” revela. O pai, Adriano de Oliveira, funcionário da Prefeitura, lembra que os primeiros contatos do filho com o computador ocorreram no período em que mantinha uma biblioteca comunitária no pátio de casa. “Naquela época tínhamos quatro máquinas, apenas duas delas funcionavam, mas sem internet. Ele aproveitava para brincar com alguns jogos bem básicos. Tinha apenas oito anos” comenta.
A possibilidade de participar da Escola Hackers era a oportunidade que Vinícius precisava para compartilhar e ampliar seu conhecimento na área. “Passaram lá na escola, e a professora de matemática escolheu dois alunos de cada turma. Eu fui um dos escolhidos” conta o menino, que acaba de passar por média para o 7º ano.
Com um horário regulado rigidamente pela mãe, Dejanira Faller, Vinícius passa em média três horas diante do computador criando suas histórias e personagens. Segundo ele, já são 11 jogos e três animações. Há três meses ele trabalha na criação de um game batizado por Scratch Wars. Ele explica que está na fase de elaboração da história, posteriormente passará para o conceito de arte e animação. “Tem várias opções de cenário. O jogador poderá escolher se será do bem ou do mal. As decisões dele interferem nos rumos do jogo” adianta. Questionado sobre seu futuro, o estudante, sob o olhar atento da única irmã, de sete anos, revela apenas uma certa ansiedade em “começar a 'mexer' com robótica”.
Pequeno hacker
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