Na Avenida, o ritmo pulsante, embalado pela bateria, é trilha sonora para que uma profusão de cores apresente, através de plumas, penas e adereços, parte da cultura brasileira. No rosto, a alegria estampada; no pé, o samba e no coração o amor pelo Carnaval, maior festa popular brasileira. O cenário, no entanto, corre o risco de não se repetir em 2016 em Passo Fundo em virtude da dificuldade na captação de recursos. A polêmica sobre o cancelamento do Carnaval de Rua, que iniciou no final da última semana, permanece: enquanto a comunidade já lamenta a não realização do evento, Prefeitura de Passo Fundo e Liga das Escolas de Samba dizem aguardar uma decisão definitiva que, ao que tudo indica, será divulgada ainda hoje.
Cancelado?
Diante da polêmica, a manifestação oficial da Prefeitura de Passo Fundo, ainda no sábado, 9, indicou que as entidades responsáveis pela organização do Carnaval de Rua estavam em busca de uma decisão conjunta. Por outro lado, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) já adiantou que não será parceira da realização do desfile, como aconteceu nos últimos dois anos, em função do cenário desfavorável que se apresenta no país. Com dificuldades para captar recursos devido à crise econômica do país, o medo é de que a festa popular seja, de fato, cancelada. Se adotada, a medida não será exclusividade de Passo Fundo. Diversos municípios já anunciaram o cancelamento do Carnaval como uma medida de economia. Uma reunião entre a Liga das Escolas de Samba e a Prefeitura, na segunda-feira, 11, apontou algumas direções para a festa na cidade. Sem definições concretas, uma nova reunião foi realizada na noite de ontem, 12. O resultado dos dois encontros será divulgado nesta quarta-feira, 13, em coletiva à imprensa. Tanto a Prefeitura quanto a Liga de Escolas de Samba ressaltaram que não há definição oficial sobre o cancelamento e que aguardam uma decisão que será tomada em conjunto. A informação extraoficial é de que, nessas reuniões, teriam sido definidas como alternativas ao desfile de rua a realização de um Baile de escolha da Rainha do Carnaval e de uma Mostra de Samba Enredo, onde a renda da venda de ingressos seria destinada às escolas de samba.
Prejuízo cultural e financeiro
Pode parecer exagero, mas o desfile que dura uma noite é a vida de quem se envolve com o Carnaval de Rua de Passo Fundo. “Estamos tristes porque apesar de o pessoal só enxergar o Carnaval no dia, nós enxergamos a cadeia produtiva na qual ele está envolvido e tudo que ele gera. É trabalho remunerado para mais de 50 pessoas por escola de samba, por exemplo. Sem falar que o Carnaval é a cultura do país. Eu tenho 31 anos e não me recordo de um ano sem Carnaval”, comenta Vinícius Machado, intérprete e compositor da Academia da Cohab I que acrescenta, ainda, que todas as escolas e pessoas envolvidas com o Carnaval investiram tempo e dinheiro na festa e que o cancelamento acarretaria em prejuízo não só financeiro, mas cultural. “A gente sabe da dificuldade da captação para as escolas de samba. A gente entende isso. O que não poderia acontecer é o cancelamento do desfile. E as famílias que se reúnem e que se dedicam? E as pessoas que já investiram dinheiro no desfile? E o respeito para com essas pessoas? Com as pessoas que já estavam comprometidas com os seus contratos?”, questiona.
Vinícius acrescenta que a escola ainda não conversou de forma oficial, mas o sentimento de todos, diante da possibilidade de cancelamento, é de tristeza e angústia. Sentimento esse que se reflete na população que é engajada na causa. “Quem gosta de Carnaval está indignado. Como todos, estamos tristes. Conversamos com os amigos e essas pessoas não sabem o que dizer. Eu não sei o que pensar, porque eu não acreditava no cancelamento”, destaca. O intérprete comenta, também, que as alternativas que teriam sido propostas em reunião talvez não sejam suficientes para manter a motivação das escolas e da população. “Vamos fazer um baile pra escolha da Rainha do Carnaval. Mas que Carnaval?”, questiona. “Eu não sei valores, mas temos a preocupação de saber onde está o recurso que seria investido na estrutura do Carnaval, como no ano passado. Ano passado não teve repasse, mas teve investimento na estrutura do desfile. E se não vai ter investimento nessa estrutura, aonde vai esse dinheiro? Estamos preocupados. O dinheiro destinado para a cultura deve ser investido em cultura”, conclui.
Um novo Carnaval
Desde 2014, o Carnaval de Rua vinha sendo organizado pela Prefeitura de Passo Fundo, em conjunto com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Liga Independente das Escolas de Samba de Passo Fundo (LIESPF). Sem repasse de dinheiro público para as escolas de samba, a Prefeitura investiu em uma estrutura mais profissional para modernizar o espetáculo. A partir disso, a CDL ficava responsável pela captação dos recursos juntamente com as empresas patrocinadoras. Também era responsável por repassar os valores às partes após as comprovações necessárias. Os valores repassados, portanto, não pertenciam à entidade, ela apenas gerenciava o montante de patrocínios.