Não o foi o Nihil Obstat do superior provincial, Pe. Euclides Benedetti, e tampouco o Imprimatur do senhor bispo diocesano, Dom Estanislau A. Kreutz, que me motivou a ler o livro “O espírito e a serpente: o sonho do paraíso”, escrito pelo sacerdote da Congregação dos Missionários da Sagrada Família Jerônimo Finckler. Talvez tenham ajudado na tomada dessa decisão de leitura, a chancela da Editora Vozes, cujos títulos do seu catálogo, em geral, são do meu agrado; e, indubitavelmente, o fato de ter recebido o livro como presente de um leitor dessa coluna, que prezo bastante, com a recomendação expressa que eu deveria lê-lo. Então, até em retribuição ao tempo que o meu presenteador gasta lendo o que eu escrevo e, acima de tudo, pela qualidade do texto de Jerônimo Finckler e pela maneira que abordou o assunto, desde que abri o livro não consegui mais parar de ler até que foram vencidas as 183 páginas da referida obra.
Jerônimo Finckler é um homem marcado pelos ditames da Igreja Católica. Não sei se ainda é vivo, mas, se for, meus cumprimentos pelo livro que escreveu; mesmo que eu não concorde com muitas das suas ideias, especialmente quando toca no assunto evolução e trata de ciência e tecnologia. De qualquer forma, aprendi com Jerônimo Finckler uma nova forma de ler os textos bíblicos. Segundo ele, a Bíblia não deve ser lida como um livro de historia, com datas e acontecimentos exaustivamente documentados. A Bíblia é um livro de Revelação sobre nós mesmo. E como tal deve ser lida. Há necessidade de fé e aceitar aquilo que não é evidente. O modo de falar da Bíblia não é unívoco, nem equívoco, mas analógico, isto é, fundamenta-se nas analogias que existem nas diversas realidades. Não há nos textos bíblicos qualquer preocupação com as normas da logica formal. Sobressaem-se dois tipos de analogias na Bíblia: a mítica e a típica. São exemplos de analogias míticas: Caim e Abel, sobre a inveja, o Dilúvio, envolvendo caprichos e desejos insaciáveis, e a Torre de Babel, sobre a arrogância humana ao pretender construir um mundo sem Deus.
As ideias de Jerônimo Finckler sobre evolução, apesar de afirmar que acredita nessa tese, são distanciadas do que a ciência entende como tal, denotando viés criacionista, ao afirmar que a origem do mundo, das coisas e do homem é uma criação divina. E flertam com os criacionistas dos novos tempos, os adeptos da teoria do Desígnio Inteligente, quando ele frisa que na base de tudo existe, inegavelmente, uma inteligência superior, infinitamente maior e mais perfeita do que a inteligência humana.
O cientificismo e o tecnologismo, os fetiches dos novos tempos, vistos por muitos como salvadores do mundo, estão, segundo Jerônimo Finckler, na raiz da desgraça e da miséria que afligem a humanidade. Nesse caso, a ciência e a tecnologia trazem a marca da serpente e não do Espirito, uma vez que descobertas maravilhosas são cada vez mais postas a serviço de ambições egoístas e desmesuradas, dividindo o mundo entre poucos que tem muito e muitos que tem pouco.
Jerônimo Finckler justifica e reafirma o sentido e o valor dos votos de Obediência, de Castidade e de Pobreza. E, nesse ponto, realça, em referência explícita, o conflito com os padres diocesanos, aos quais, depois de ordenados, se impõe o Voto de Castidade, o celibato, mas sem ser exigido, ao mesmo tempo, o Voto de Pobreza evangélica e o Voto de Obediência (apenas é exigida a promessa formal de obediência ao Bispo Diocesano); com reflexos negativos no que ele entende por espiritualidade e ideal de vida cristã.
Eis um livro escrito por um homem culto, com forte viés ideológico da fé que abraçou, mas que nos deixa mensagens valorosas para o melhor entendimento do conflito, que, não raro, intimamente, enfrentamos, entre a voz da consciência (que para Jerônimo Finckler é Deus) e a serpente (o mais astuto dos animais criados por Deus, segundo ele), com seus instintos interesseiros, sede de poder, ganância por lucro e obtenção de vantagens pessoais, que nos tenta e facilmente nos seduz.
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