OPINIÃO

Epílogo ou quase lá

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Minha geração, anos 60-70, está chegando ao epílogo ou conclusão dos trabalhos, por assim dizer. Fomos privilegiados vejam porque: nas telas convivemos com Steve McQueen-De Niro-Lee Marvin-Charlton Heston-Al Pacino-Redford-Paul Newmann-Marlon Brando-Jack Nicholson, Gene Hackman-John Voigt e Dustin Hoffmann; Chico Anísio-Jô Soares; na música acompanhamos Elvis-Beatles-Michael Jackson-Queen-Caetano-Gil-Chico-Vinícius-Tom, Raul e Roberto Carlos; no esporte assistimos Ubiratan- Oscar no basquete, João do Pulo, Senna-Piquet-Fittipaldi, Pelé-Rivelino-Tostão, vimos surgir Ronaldo-Ronaldinho. Esses monstros entre tantos outros deram um verniz de qualidade porque são absolutamente insubstituíveis. Tenho pensado se esse tipo de manifestação escrita não significa essencialmente saudosismo. Talvez não porque os resultados obtidos pelas feras acima dificilmente serão igualados e em razão disso é que me refiro ao privilégio.

Hoje, sem querer ofender quem aprecia os gêneros, não há individualização na música, por exemplo, tudo parece massificado e globalizado tipo a melhor banda de rock da última semana. Tudo é fera, como diz Faustão. Todos são tão iguais, o playback corre solto, há pose para tudo, há enquadramento para tirar foto, para postar voz, há photoshop.

O epílogo também significa saber de quanta água bebemos dessa cacimba, de quanto aproveitamos dos mestres e de quanto deixaremos como butim aos nossos sucessores. Ontem mesmo, lá no Praia de Belas, vi crianças brincando numa imensa piscina repleta de bolas coloridas. Meu pensamento me levou de volta a quando Ramon tinha quatro e Georgia tinha apenas um ano de idade. Eles estavam ali, felizes, eram de colo as minhas crianças e foram trocas de amor intensas. Amamos os filhos em qualquer idade deles, queremos suas presenças, sentimos demais suas ausências. Não sou coruja, sou um pai latino normal como você. E, talvez, a sua semelhança, sinto-me devedor pelo tempo que não dispus para aproveitar mais meus filhos. Se a gente tem filhos quando se é jovem não aproveitamos em razão da correria da sobrevivência; se temos filhos mais tarde é possível que não tenhamos tanto tempo no futuro para conviver. Sinto-me em débito.

Queria, humildemente, ser um gigante, tal qual as pessoas nominadas acima e que embelezou minha geração. Quero merecer fazer parte da lista individual de cada um de meus filhos como pessoas das quais eles se orgulharão de terem convivido. Com mais créditos que débitos aí, sim, dá para passar a régua e encerrar a conta.

Olho:

“Hoje, sem querer ofender quem aprecia os gêneros, não há individualização na música, por exemplo, tudo parece massificado e globalizado tipo a melhor banda de rock da última semana. Tudo é fera, como diz Faustão”

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