Ummm, doisss, trêsss. Para tudo. Novamente. Ummm, doisss, trêsss. Com os braços para o alto, batendo uma baqueta na outra, usando a voz, o apito, os pés, o corpo todo, ele vai marcando e repetindo o ritmo como um mantra. Logo em seguida, pede a demonstração dos alunos. Um por vez. Depois todos juntos. Aos poucos, o som de cada instrumento vai se integrando ao conjunto e a música brota na roda de tambores. Após duas semanas de ensaios intensos regidos pelo músico Marcelo Pimentel, chegou o dia tão esperado pelos 11 jovens internos e egressos do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case). Na noite deste sábado, a Banda Liberdade, de Passo Fundo, estará no palco do Planeta Atlântida para uma participação especial no show do grupo carioca O Rappa, marcado para às 21h50min.
Criada pelo juiz da Infância e Juventude de Passo Fundo, Dalmir Franklin de Oliveira Júnior, a banda foi formada a partir das oficinas de músicas realizadas com os internos na unidade do Case visando a ressocialização dos adolescentes. No segundo semestre do ano passado, o projeto ganhou destaque na imprensa nacional, incluindo participação no programa Como será? Apresentado pela jornalista Sandra Annemberg, da Rede Globo.
Durante a entrevista, eles interpretaram a música Pescador de Ilusões, gravada em 1996 no álbum Rappa Mundi, e adaptaram novos versos compostos pelo ex-interno Gabriel Moraes, 23 anos. A homenagem repercutiu e chegou até a banda carioca através de José Júnior, fundador do Afro Reggae. “Ficamos emocionados ao ver um uso tão nobre para a nossa música e resolvemos colaborar com o projeto. Com a nossa participação no Planeta Atlântida confirmada, e com a vontade de fazer algo bacana em virtude dos 20 anos do festival, resolvemos convidá-los para tocar uma música com a gente” revela Xandão, guitarrista de O Rappa. Junto com o convite, os músicos se ofereceram para custear todas as despesas de transporte e alimentação dos integrantes do projeto na praia de Xangrilá.
Regente do grupo, Pimentel explica que o desafio durantes os ensaios foi mesclar no arranjo de Pescadores de Ilusão, ritmos como o hip hop e o maracatu, no melhor estilo Chico Science & Nação Zumbi. “Focamos o trabalho em cima desta canção. Vamos incluir nossa percussão com o Rappa, que também se utiliza de diversos ritmos em seu trabalho. Será uma experiência inesquecível para essa gurizada” projeta.
O magistrado divide a mesma opinião do músico. Responsável pela execução das penas aos menores, Oliveira diz que seu sonho é ter uma banda fora da unidade para o acompanhamento dos egressos. “Depois que o adolescente deixa a unidade ele vai ficar sem tocar. Precisamos de recursos para termos continuidade aqui fora” afirma. Dos 11 integrantes que se apresentam hoje à noite, quatro são internos, três estão no semiaberto e quatro já deixaram a unidade. “Além da participação no show, alguns terão a oportunidade de ver o mar pela primeira vez” diz Oliveira, que também atua como músico no projeto.