Diferentes momentos de incerteza deixaram os produtores de soja apreensivos nesta safra. Na implementação da lavoura o excesso de chuva exigiu que várias áreas fossem replantadas, posteriormente a falta de chuva em janeiro também causou apreensão. Agora a retomadas das chuvas, inclusive com chuvas fortes em diversas áreas revelam outra fragilidade da agricultura regional: a falta de adoção de técnicas conservacionistas de solo. A erosão pode ser vista em diversos locais e a recuperação da fertilidade do solo nessas áreas pode demorar muitos anos. Mesmo assim, os agricultores ainda devem sair da safra de verão com uma boa lucratividade.
Quem explica a origem do problema com a erosão e a perda de nutrientes do solo é o engenheiro agrônomo da Emater Regional de Passo Fundo Claudio Dóro. Neste ano ficou evidente a necessidade de se melhorar as técnicas conservacionistas de solo na região, especialmente os terraceamentos e a cobertura com palha. “Para melhorar a matéria orgânica e a fertilidade do solo às vezes se leva uma década ou mais. Para se perder, basta uma chuva se não tiver práticas de conservação”, alerta Dóro.
O plantio direto trouxe muitos benefícios para a agricultura regional. No entanto, muitos produtores destruíram os terraceamentos para facilitar o plantio e obter mais rendimento. “O plantio direto para se sustentar tem que ter palha para proteger a camada superficial da lavoura e muitos estavam preocupados só com o rendimento e não com o sistema e esse ano deu para ver mais do que nunca que quem tem plantio direto e não tem palha na lavoura perdeu muito de solo que é o principal patrimônio”, acrescenta Dóro. Segundo ele não há como dimensionar exatamente os danos causados pela perda da camada mais superficial do solo pelas fortes chuvas, mas os danos são visíveis e isso deve ser um dos fatores que irão diferenciar a produtividade das lavouras.
Safra rentável
Devido aos problemas enfrentados em diferentes épocas, as lavouras não alcançarão o ápice de produtividade. Mesmo assim esta deve ser uma safra rentável aos produtores. Conforme Dóro, no momento de planejamento da lavoura e aquisição dos insumos muitos produtores conseguiram evitar o período de maior alta do dólar. Por outro lado, a venda se dará com o dólar em alta, o que beneficiará os agricultores. Outro fator positivo é a produtividade, que apesar de não expressar o máximo potencial produtivo ainda será considerada boa. Situação diferente será vivenciada na safra de inverno que será mais onerosa aos produtores, pois os fertilizantes, sementes e defensivos já serão adquiridos com a nova cotação da moeda norte-americana. “Precisará ser uma safra de bastante cautela porque o investimento será alto”, antecipa Dóro. Sem muitas opções os produtores deverão investir na lavoura em busca de rendimento e qualidade para garantir lucro.
Doenças e pragas
Uma situação atípica vivenciada nesta safra é a baixa ocorrência de pragas e doenças. “O aspecto fitossanitário das lavouras é muito bom. Há poucas doenças e pragas praticamente não têm. As condições climáticas de umidade e temperaturas mais baixas à noite propiciaram a multiplicação dos inimigos naturais das lagartas”, aponta o engenheiro agrônomo. As doenças estão sob controle mesmo sendo este um ano favorável para a ocorrência. “Os produtores se precaveram e muitos calendarizaram a aplicação de defensivos e não deram espaço para as doenças se instalarem e se desenvolverem nas lavouras”, explica. Esta precaução também fez com que o custo de produção se elevasse um pouco. Apesar das boas condições, este ainda é um momento de cautela para os produtores. A orientação é continuar o monitoramento para evitar a ocorrência de doenças de final de ciclo, especialmente a ferrugem asiática.