Ainda que os autores do artigo “Fatal attraction: the intuitive appeal of GMO opposition” (Trends in Plant Science, v. 20, n.7, jul. 2015, p.414-418.), que leva a assinatura de Stefann Blancke e colaboradores da Universidade Ghent/Bélgica, tenham frisado que a intenção não fora rotular a preocupação pública com o uso de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), os populares transgênicos, especialmente em agricultura, como sendo uma decorrência da irracionalidade humana, houve quem não entendesse bem assim. Muito pelo contrário, insistiram os autores do referido artigo, há necessidade de um melhor entendimento da discrepância entre a opinião pública contrária ao uso de OGMs, especialmente na Europa, e as evidências científicas que apontam para o lado oposto. Então, foi lançando mão de análises cognitivas e ideias da psicologia evolucionária que eles chegaram ao veredito de que, nesse assunto, intuições e emoções, mais que razão, são responsáveis por tornar a mente humana altamente suscetível à propaganda contrária aos OGMs.
O debate público sobre o uso de OGMs, envolvendo preocupações com riscos à saúde humana e ameaças ambientais, não pode ser reduzido a uma batalha entre racionalidade e irracionalidade ou, simplesmente, civilização versus barbárie. Nesse caso, o entendimento da comunidade cientifica e os interesses da sociedade deveriam convergir para um ambiente de respeito, cabendo aos cientistas, como pretensos especialistas no uso do pensamento racional aplicado a coisas altamente complexas, como são inegavelmente os OGMs, o ônus de tentar entender o fundamento das preocupações públicas sobre o assunto em vez de, simplesmente, desconstruí-las; rotulando-as de “ignorâncias descabidas”; por exemplo. Stefann Blancke e colaboradores ao tirarem suas conclusões a partir de premissas embasas em conhecimentos de biologia folclórica (falsa ciência), no pensamento teleológico (intencional) e em emoções (repulsa intuitiva), deram demasiada ênfase à importância da irracionalidade na formação da opinião pública contrária ao uso de OGMs. E mais, ao descreverem, na sua análise, uma realidade que é muito vivenciada na Europa, suscitaram críticas, pois, nesse caso, estão envolvidas sociedades que se caracterizam pelo elevado nível de democracia, por respeito pela diversidade de credos religiosos e elevada secularização, possuidoras de alto grau de escolaridade e detentoras de instituições de ensino e pesquisa de vanguarda.
A relação entre cientistas e cidadãos, no caso de questões complexas como é o uso de OGMs, por exemplo, apesar de bastante intricada, mais que um mero conflito entre racionalidade e irracionalidade, merece ser vista como um desafio estimulante para comunidade científica. O embate entre ciência e opinião pública, na questão OGMs, soa como um falso dilema. Eis que, uma vez entendido como surgem as crendices populares, quase sempre embasadas em falsas premissas cientificas ou fontes pouco confiáveis, a conciliação pode ser construída. Do lado dos cientistas, esse entendimento facilita a compreensão do papel e do impacto da inovação tecnológica nas sociedades, afastando o mito da prática científica hermética e distanciada de compromissos com o mundo real. E, do lado dos cidadãos, pela percepção que algumas das suas concepções não passam de ilusões ou peças de ficção de má qualidade, podendo levá-los à reconsideração das suas posições sobre o assunto.
Após 19 anos de uso de OGMs no mundo (desde 1996), são 28 países que adotam essa tecnologia (EUA, Brasil Argentina, Índia e Canadá ocupam as 5 primeiras posições), apesar dos questionamentos suscitados, tem sido mostrados mais benefícios do que malefícios pelo emprego desse tipo de cultivo. Os grandes desafios que se apresentam em agricultura, especialmente na busca pela intensificação sustentável, não podem prescindir de técnicas de biologia avançada.
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