Nessa sexta-feira nossos meninos e meninas, médicos residentes, completam sua formação nos hospitais de Passo Fundo após dois anos de convivência que parecem ter passado rapidamente. O que levam de nós, instrutores, além dos ensinamentos técnicos? Levam vida, honestidade, hombridade, ensinamentos para a vida social, lições para trabalho em equipe? Levam nossas habilidades, uns de nós mais do que outros; levam ressonâncias humanas, de uns mais do que de outros; levam noções de comprometimento, de uns mais do que de outros. Levam por ensinamentos diários nossos defeitos e nossas virtudes e saberão deletar o que não serve e aproveitar o que pode ser importante. Levam um pedaço de cada um de nós e deixam juventude e a inquietação característica do jovem médico que cada um de nós já foi. A gente aprende mais com vocês do que talvez aprendam conosco. Resta-nos agradecer.
Penso que há muitas lacunas no ensinamento dos jovens médicos, estudantes ou residentes, durante o rico período de suas juventudes enquanto passam por nossas equipes. Falta-nos ensinar sobre ética-moral, vida de consultório, vida sentimental-laços de família, como projetar futuro profissional, como investir grana, que tipo de perfil deve ter o sócio que trabalhará com eles...Porque a vida dos médicos mais rodados é constituída de erros e acertos, sobre expectativas não contempladas, sobre objetivos completados, sobre a visão do que deveria ter acontecido e assim não sucedeu. Mas, a maioria de nós ensina sobre aspectos técnicos e vida dentro dos hospitais, relação interpessoal entre médico-paciente. Teríamos que falar sobre vida, sobre vida de qualidade e não somente sobre vida de qualidade que não são sinônimos. O que é vida de qualidade? Imagino a gente sentado em cadeira de praia, pés descalços na areia, o mar e o sol a nos visitar, todos sorrindo e o chimarrão, caipirinha ou cerveja gelada, mulheres estonteantes desfilando e eu digo, inebriado: isso é que é qualidade de vida, eu mereço isso tudo. Ou seja, as coisas vem de lá para cá para me presentear...qualidade de vida. Vida de qualidade é outra coisa, é aquilo que vai daqui para lá, é aquilo que ofereço para a construção de outra pessoa, é o que me credencia a imaginar que sou um ser acima da média do ponto de vista humano já que a Medicina é uma ciência humana, de gente para gente, de gente que gosta de gente, de gente que tem como finalidade cuidar de gente. Vida de qualidade é deixar marcado exemplos consistentes de vida. A Medicina é algo maior do que nós, não é profissão mercantil ou não deveria ser, Medicina é missão, não é para todos, é para os escolhidos. Tem que ter mais formação humana, tem que ter mais construção.
Muitas vezes não delegamos isso aos meninos e meninas que nos deixam. Mesmo assim, no dia da formatura, sem mais ou menos, desejamos, o que mesmo? Ah, sim, lembrei...boa sorte aos nossos meninos e meninas.
Levam um pedaço de cada um de nós e deixam juventude e a inquietação característica do jovem médico que cada um de nós já foi