A situação do estoque de vacinas piorou em Passo Fundo. Assim como em todo o Brasil, o município registra falta de doses para a prevenção de várias doenças. O problema vem se arrastando desde agosto do ano passado, quando a quantidade de doses entregues pelo Ministério da Saúde passou a diminuir. Segundo a enfermeira do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, Raquel Carneiro, a maior dificuldade é com a vacina para a hepatite B, que não está disponível em nenhuma das 28 salas de vacinas do município. Além disso, os estoques de dupla adulto, para difteria e tétano, e tríplice bacteriana de células inteiras (DTP infantil), para difteria, tétano e coqueluche, também diminuíram. “Não temos a quantidade que costumávamos ter sempre à disposição da comunidade”, explica Raquel. De acordo com ela, já haviam sido registradas algumas faltas, mas o estoque nunca tinha ficado zerado, sem nenhuma dose disponível. “Temos 28 salas de vacinas no município e não temos conseguido manter as vacinas à disposição em todas elas. Todas estão abertas, mas com restrições. Algumas vacinas são disponibilizadas somente em unidades maiores para que se possa otimizar mais o frasco, por ser multidose”, esclarece.
Soro antiofídico
Além das vacinas, há falta de soro antiofídico, utilizado para tratar mordidas de cobras venenosas. Os estoques disponíveis estão centralizados em unidades maiores, em hospitais de referência. No caso de Passo Fundo, no Hospital São Vicente de Paulo. “A falta do soro nos preocupa bastante, porque é o único antídoto para o acidente antiofídico, não podemos substituir por nada”, afirma Raquel.
Prevenção prejudicada
A situação prejudica o trabalho do Núcleo de Vigilância Epidemiológica e pode agravar o quadro da saúde no Brasil, fazendo com que doenças que não são comuns hoje passem a ser um problema no futuro. “O nosso trabalho é sempre a prevenção e a única forma que temos de prevenir algumas doenças é a vacina. Ao contrário do soro, a vacina nós podemos postergar um pouco, mas sabemos que em algum momento estamos expondo a população, que pode vir a desenvolver alguma doença que não é comum hoje”, explica a enfermeira.
Possibilidade de compra
Em entrevista ao O Nacional em janeiro, o secretário de Saúde, Luiz Artur Rosa Filho cogitou a possibilidade de compra de doses com recursos próprios do município. “Estamos cogitando a compra, algo que nunca aconteceu antes e que não sabemos nem como proceder porque as vacinas sempre vieram do Estado ou do Governo Federal”, disse o secretário, na ocasião. Segundo Raquel, a intenção de compra ainda existe, porém, há um problema mercadológico que pode barrar a decisão. “A responsabilidade de aquisição das vacinas é atribuição do Programa Nacional de Imunização, que é do Ministério da Saúde e não dos municípios. O quantitativo é muito grande para que o município mantenha o calendário oferecido. Além disso, o custo é elevado e há dificuldade para adquirir”, explica.
Ministério
De acordo com a Portaria Ministerial 1.378 de 09 de julho de 2013, o provimento de todas as vacinas ofertadas no SUS aos estados do Brasil é de responsabilidade Ministério da Saúde. Todos os imunobiológicos, após análise e liberação, são distribuídos, em sua maioria por via aérea, da Central Nacional de Armazenagem e Distribuição de Insumos Estratégicos (CENADI), localizada na capital do Rio de Janeiro, para cada um dos estados do país. Cada estado, por sua vez, é responsável pela distribuição aos municípios, de acordo com as necessidades locais.
Em nota, o Ministério da Saúde esclarece que, devido à indisponibilidade de algumas vacinas nos mercados nacional e internacional, nos últimos meses, houve atraso na distribuição de determinadas vacinas ofertadas no SUS. Mas reforça que tem buscado soluções para garantir a proteção da população, inclusive, mantendo altos índices (cerca de 90%) de cobertura vacinal no país. Segundo o Ministério, a distribuição da maioria das vacinas será normalizada até o final do mês de fevereiro.
O Ministério da Saúde disponibiliza pela rede pública de saúde de todo o país cerca de 400 milhões de doses de imunobiológicos, por ano, para combater mais de 20 doenças. Atualmente são ofertadas gratuitamente no SUS 17 tipos de vacinas, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).