OPINIÃO

O Rei e eu

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Um bom amigo e talvez meu halter-ego me chamaram de Roberto Carlos, o Rei, aquele que compôs mais de 700 músicas falando das mesmas coisas. Meu halter-ego diz que escrevi mais de 400 crônicas em 8 anos que bato sempre nas mesmas teclas: humanismo, ética, moral, lembranças da infância, saudades do amigos, sobre músicas e dos pais. Diz que o pessoal está de saco cheio desse lero-lero, coisa de viado. Comparar-me ao Rei é legal, demasiado talvez, mas, o rei e eu somos íntimos, conheço-o desde 1965, o ano de sua explosão musical e eu tinha apenas 8 anos de idade. Demasiado porque o Rei é inigualável, nem tanto pelo seu momento atual, mas pelo conjunto da obra. Vejam vocês que o show de McCartney vale por tudo o que ele foi, encantadoramente, além de ser ótimo músico, assim como o Rei é excelente cantor. Bem, eu poderia escrever sobre outros assuntos: política, por exemplo, mas escrever o que, além de lamentar o circo de horrores ofertados pelos que escolhemos como melhores para nos representar, escrever sobre lava-jato, zelotes? Futebol? Escrever o que, além das maracutaias e arranjos econômicos que fazem com que nos sintamos absolutamente desinteressados até mesmo dos jogos dos nossos times do coração? Sobre religião, desiderato individual, em que a TV está impregnada da teologia da prosperidade estimulando incautos a contribuir para a causa da redenção em troca de dinheiro? Novelas, em que o exibido é artificial e não corresponde a maioria das nossas vidas e que parece servir apenas como alienação de nossas mundanas vidas, além do estímulo permanente a libido? BBB, essa estupidez servida em pratos quentes em que se mostram descerebrados disputando beleza e sandices saídos da boca de corpos desnudos? Hollywood, que mostra tráfico de drogas e maneiras incessantes de como cometer crimes e enriquecer da noite para o dia? Músicas, da qual nem sabemos quem está cantando já que todos se parecem, a mesma enxovalhação natural apresentada aos domingos em estupendos playbacks? Universidades e cursos de mestrados e doutorados aos montes com o objetivo único de arrecadação? Enfim, escrever seriamente sobre o quê?
Esse tecido social apresentado, não como amargura, mas como constatação, mesmo que individual, mostra um painel de desencanto onde claramente o que está fora de nós é absolutamente perturbador. Parece que o mundo está diminuído, parece que já fomos mais seletivos e exigentes. Com certeza não é o mundo que está em sofrimento. O mundo é o que sempre foi e nós, os homens, é que deveríamos ser melhores do que somos. E é sobre isso, somos o que podemos ser, sobre como fazer a diferença pelo menos para nossos filhos que herdarão esse espetáculo deprimente e podre é que se deve estimular a leitura, não de minhas simples crônicas, há tantas bem melhores nesse jornal, mas de bons livros porque as coisas, todas elas, os bons exemplos começam, como sempre, dentro de nossas casas. Mas, antes de iniciar em nossas casas começam dentro dos nossos corações. E é para o coração de meus amigos que eu escrevo assim como o Rei canta para os corações dos românticos e como Mc Cartney continua brilhando.

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