Acompanhei com apreensão as notícias do desaparecimento do neto de Chico Anísio. A gente que é taludo torcia para que o mau pressentimento não se confirmasse. Mas, infelizmente o garoto foi encontrado sem vida. Se foi ato deliberado não vem ao caso. A morte violenta de um garoto de vinte e poucos anos deixa todos os pais de adolescentes em luto por antinatural, uma excrescência na criação. Dói demais a ruptura traumática e ficamos sem palavras a não ser de maneira mais ou menos confortável pensar que o garoto que se foi deve ter ido para uma lugar sem as dores de nossas materialidades. Por que nossas vidas nesse estágio carnal é marcada por dores, inquietações e busca de satisfação de desejos. Nossas procuras encontram respostas, às vezes sim, às vezes não. Mas, essas inquietações deveriam ser apanágio de adultos de cenhos franzidos e de cabelos brancos e nunca, absolutamente nunca, de jovens imberbes ou de barba escura, jovens no frescor da existência com um mundéu a descobrir e a viver. Quando eles tomam essa decisão sem explicação porque absolutamente desconhecemos os mistérios da mente e da alma a gente vai junto, parte melhor da gente vai junto, irremediavelmente.
O médico vê de tudo e não se acostuma jamais com esse tipo de desenlace. O médico luta para preservar a vida, negocia com a morte, vende caro a derrota. O médico enlutece junto à família do paciente, leva para casa as dores da família e suas expectativas. A vida é mais que um monte de músculos e sangue nas veias. A vida é expectativa e o que acontece nas casas de nossos pacientes acontece de igual maneira na casa do médico. As lágrimas são iguais porque são salgadas, o aperto no peito da saudade e da distância dos filhos é exatamente igual. A gente é feito, pense bem, para uma pequena vida solo. Digamos que a gente casou com menos de trinta anos, o que aconteceu foi o seguinte: começamos a viver aos quinze, casamos dez anos mais tarde e passaremos a viver a vida dos filhos a partir do momento que eles nascem. E a gente vai ser feliz com a felicidade deles, a gente vai se realizar com o sucesso deles, a gente vai comer tijolo para dar papinha a eles. Eles são nós melhorados, eles são aquilo tudo que por razões quaisquer não pudemos ser. Eles são as nossas projeções e futuro. Quando eles vão embora de forma traumática, muito antes da hora, a gente vai junto.
Eu estou de luto, os pais todos estão. É em nome disso da dor que nunca termina que endereço essa crônica aos jovens, nossos sonhos e nosso futuro. Pensem nisso.