Quando nasce a inspiração

Para Flávio Schneider, de 67 anos, a preparação para a aposentadoria levou tempo. O resultado foi uma nova inspiração: nos trabalhos manuais, o aposentado encontrou uma nova forma de experimentar a rotina

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Nas mãos de Flávio Schneider um pedaço de madeira velha ganha cor, formato e utilidade: seja como suporte para flores, um novo banco ou um enfeite para uma parte esquecida da casa, é no artesanato - especialmente nas flores e na madeira - que o aposentado de 67 anos encontrou a inspiração para viver o sonho perdido na juventude. Inspiração essa que chegou há dois anos junto com a aposentadoria. Flávio faz parte de um alto índice de aposentados que seguem ativos e encontram em uma nova atividade uma maneira de transformar a rotina e, de quebra, conquistar uma fonte de renda extra.
O encontro de Flávio com o artesanato não foi um caminho fácil e a aposentadoria nem sempre foi vista com bons olhos e, muito menos, como inspiração para um novo sonho. Pelo contrário: Flávio se aposentou aos 47 anos depois de a empresa em que trabalhava fechar as portas. Ele mal sabia que tinha tempo de trabalho suficiente para encaminhar a aposentadoria. Recebeu a sugestão de quem estava próximo, procurou se informar e, para a sua surpresa, a aposentadoria foi aceita em função dos anos trabalhos na agricultura. Depois da surpresa, a empolgação e, logo em seguida, a insatisfação. “Me aposentei sem nenhuma preparação, foi de susto. Não estava preparado nem financeiramente e muito menos psicologicamente. Então eu, que estava cheio de energia e que vivia fazendo cursos para o trabalho que eu fazia, parei em casa e comecei a pensar: tudo isso que eu reuni e aprendi, onde vou colocar? E aí entrei em ‘parafuso’. Parei de trabalhar como quem entra em férias e espera a volta. Como essa volta não aconteceu comecei a me perturbar, me perder”, relembra.
Nem sempre é fácil se aposentar
O cenário enfrentado por Flávio, aos 47 anos, é recorrente. Ainda que o desejo pela aposentadoria seja frequente, especialmente nos últimos anos trabalhados, quando ela de fato chega, a rotina – ou a falta dela - é um problema a ser enfrentado. A psicóloga Patrícia Barazetti acredita que é preciso encontrar uma forma de dispensar a energia que antes estava concentrada no trabalho. “Como vivemos em uma época em que a ciência proporcionou aos sujeitos uma vida mais longa, os processos de aposentadoria ainda passam por uma transformação na vida dos sujeitos, pois, como podemos observar, as pessoas que estão se aposentando hoje gozam de saúde e disposição, e precisam pensar em estratégias de investimento dessa energia, desta forma alguns sujeitos acabam por apresentar quadros de tristeza, não se sentem mais úteise por vezes esses sintomas podem evoluir para um quadro depressivo, quando este processo ocorre desta maneira esta fase certamente torna-se difícil”, avalia.
Ela acredita, ainda, que para viver a aposentadoria da melhor forma possível é preciso estar preparado para ela financeira e psicologicamente. “Temos que encarar o momento da aposentadoria como um novo ciclo de vida, uma nova fase, em que os sujeitos podem e devem permitir-se gozar e desfrutar de momentos que antes pelo acúmulo de tarefas não era possível de realizar. Alternativas como viajar, fazer parte de grupos de idosos que constantemente oferecem alternativas de atividades e lazer, torna-se uma boa alternativa. Além disso o aposentado que gozar de saúde pode desenvolver atividades que lhe proporcionem prazer e que lhe preencha o vazio do ócio”, comenta e acrescenta, também, que quando a aposentadoria é vista com alegria e, mais do que isso, como inspiração para novas experiências, é sinal de que a nova fase chega acompanhada de felicidade. “Toda a atividade que é desempenhada com prazer faz com que o sujeito sinta uma sensação de bem estar, desta forma a inspiração para uma nova vocação fará o aposentado feliz, e felicidade é um dos melhores remédios naturais para nossa saúde”, conclui.

O que diz a lei?
Em 2015, o Brasil fechou o ano com mais de 32 milhões de aposentados e pensionistas do INSS. Para chegar a isso, no entanto, foi preciso preparação tanto do sistema previdenciário quanto de quem busca a aposentadoria. Em novembro do ano passado, a presidenta Dilma Rousseff converteu em lei a Medida Provisória 676/2015 que cria uma nova fórmula para o cálculo da aposentadoria no país. Conhecida como 85/95, estabelece um tempo mínimo de contribuição (35 anos para homens e 30 anos para a mulher) e, também, uma idade mínima – que pode ser menor se o tempo de contribuição for maior – de 60 anos para o homem e 55 anos para a mulher. Para a professora de Direito Previdenciário da Universidade de Passo Fundo, Edimara Sachet Risso, a iniciativa busca inibir aposentadorias precoces e valorizar quem contribui desde cedo. Para ela, é preciso não só uma preparação psicológica para o momento, mas, também, contato com o que diz a legislação. “Cada pessoa precisa planejar a sua aposentadoria, porque isso depende do seu histórico de vínculo com a previdência. Mas o ideal é sempre ter um bom tempo de contribuição e uma idade em torno dos 60 anos. O impacto positivo disso é que, se somente as pessoas que necessitam receberem, o valor dos benefícios poderá ser mais alto. Caso contrário, poderá sofrer o desconto do fator previdenciário ou pelo pouco tempo de contribuição, a depender da espécie de aposentadoria. Aconselho que as pessoas busquem informações junto ao INSS sobre seu histórico de contribuições, verificando se em todos os empregos houve o efetivo recolhimento da contribuição previdenciária”, comenta.

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