A república brasileira vive tempos de profunda inquietação. Ela parece ter tomado proporções maiores após a condução coercitiva do ex-presidente Lula, na semana que passou, chamado a prestar esclarecimentos para a Polícia Federal, cumprindo ordens da Justiça Federal. Sem sombras de dúvidas, momento singular que, pensei pudesse ver um dia, quando já de cabelos brancos e sem todas minhas faculdades mentais preservadas: as cosias no Brasil demorariam para acontecer. Mas estão aí, nos atingindo com uma surpreendente velocidade.
O momento que ora presenciamos do Brasil, por mais difícil e/ou intragável que pareça ser, assustador para alguns, inacreditável para tantos, é o Brasil que reflete o fim de um ciclo de lideranças e o fim de um ciclo político. Extinção de um ciclo político, em razão de que governar baseado em coalizão não deu certo e custa caro: todos os interesses precisam ser contemplados e aí, a consequente necessidade de criação de diferentes espaços para acomodá-los. O custo é que a política não passa mais pela necessidade da sociedade, mas serve para assegurar diferentes tipos de ganhos pessoais, e, fim de um ciclo de lideranças oriundas da ditadura militar: exilados, presos políticos, torturados, mas sempre com armas.
Qualquer escolha baseada na força, não é escolha, é obediência. Surge a democracia e com ela a “constituição cidadã” promulgada por Ulisses Guimarães que pretendia ali, criar mecanismos para reparar toda a dívida social com o povo brasileiro. Tancredo não assumiu a presidência, quis o destino que um egresso da Arena, José Sarney, assumisse. Através dele se sucederam diversos planos econômicos, todos, sem exceção, não deram certo. Se decretou a moratória. Deputado, Luis Inácio LULA da Silva bradou que no Congresso Nacional existiam 300 picaretas. Collor, o então caçador de marajás, o confisco das poupanças e o fim da esperança nacional. Na época, sofreu o impeachment porque encontraram um Fiat Elba não declarado, adquirido com sobras de campanha.
Assumiu Itamar Franco, um governo pela união nacional, que o Partido dos Trabalhadores (PT) se recusou a participar – bem, pelo menos havia uma oposição. Itamar ainda incentivou a Volkswagen para que voltasse a produzir o fusca, para atender o público de baixa renda, bancou e criou o Plano Real. O Plano Real faz possível derrubar a inflação e projeta Fernando Henrique Cardoso (FHC), que vence as eleições e implementa reformas na estrutura do estado brasileiro: as privatizações, a reestruturação do sistema financeiro e o fim do monopólio da telefonia e do petróleo. Pecou pela vaidade, ao propor uma mudança constitucional para introduzir a reeleição no Brasil. A mudança aconteceu e foi reeleito em 1998, no primeiro turno. Desde a sua segunda posse viveu dias ruins, tempos difíceis: chegou cambaleante até o fim de seu governo, onde o PT a todo instante insistia com a tese do impeachment.
Em 2002, Lula venceu, com o estereótipo do “Lulinha paz e amor”, abandonou os dogmas petistas e escreveu a carta ao povo brasileiro, que possibilitou conquistar apoio dos agentes econômicos nacionais e internacionais. A esperança ressurgia no povo naquele instante. 2005, eclodiu o escândalo do mensalão, com um grande desgaste na imagem nacional, mas, mesmo assim, Lula consegue se reeleger. A economia andava bem e o Brasil surfava na onda dos preços da commodities internacionais em alta, foi possível então, distribuir riqueza e construir um projeto de Brasil onde a Petrobras era o grande indutor do crescimento. Em 2008, a grande crise mundial sacode os mais poderosos países do planeta, enquanto isso, Lula afirmava que tal evento era somente uma “marolinha”, e o Brasil voltou a crescer.
Lula elegeu um poste como Presidente da República em 2010, chamada Dilma. Desde 2010, Dilma conduzia a economia como se estivéssemos em uma época de bonanza, onde tudo era fácil. A economia internacioanal dava sinais de andar devagar e a Presidente manteve os gastos, não se preocupou com reformas e ainda interviu no setor elétrico, anunciando a redução de 20% nas contas de energia. Em 2014, criou o “país das maravilhas” e venceu uma das eleições mais difíceis da recente história da república brasileira. Ganhou perdendo. Chega em 2016 aos trancos e barrancos, com uma aliança consolidada com o PMDB que não agrada nenhuma esfera do clã político. Sem projeto e tentando ganhar tempo, Dilma, passa a ser governada pelos fatos. E então, quem se arrisca em um palpite para o dia depois de amanhã?
Adriano José da Silva
Professor Coordenador da Escola de Administração da IMED
Indicadores Econômicos
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