A 17ª edição da Expodireto Cotrijal, que encerra hoje (11), em Não-Me-Toque/RS, mais uma vez, deu demonstração cabal do papel da Ciência e da Tecnologia (C&T) na geração de inovações envolvendo produtos, serviços e processos para a agricultura brasileira.
Na área de melhoramento genético vegetal, por exemplo, as novas cultivares, especialmente de soja, milho e trigo, cujas sementes já estão ou estarão nos próximos anos à disposição dos agricultores, carregam, paralelamente aos 12 mil anos de domesticação e de pouco mais de cem anos do legado deixado por Gregor Mendel, também algumas inovações derivadas da era da biologia molecular, que iniciou com a descoberta da estrutura do DNA (começo dos anos 1950), alçou voos com o desvelamento do código genético (meados dos anos 1960) e se materializou nos OGMs hoje cultivados (com destaque para soja e milho, no Brasil), a partir do domínio da tecnologia do DNA recombinante (anos 1970), e ganhou novos rumos com o advento da seleção genômica.
Em 12 mil anos de agricultura, por processos de seleção empírica, o homem moldou ao seu gosto as plantas cultivadas que conhecemos hoje. Praticando uma forma de melhoramento genético estilo “caixa-preta”, foram sendo selecionadas as plantas com caraterísticas desejáveis (ciclo, porte, produtividade, qualidade nutricional, resistência a pragas e doenças, etc.) e excluídas outras que à primeira vista não interessavam. Sobreveio Mendel, solenemente ignorado no século 19 e depois resgatado por William Bateson, no começo do século 20, a valorização da heterose (com destaque para o milho híbrido), a aplicação das Leis de Mendel em agricultura, pela Revolução Verde (a partir da segunda metade do século 20), sendo trigo e arroz exemplos notórios (introgressão dos genes de nanismo, mudança de arquitetura de plantas e seleção para adaptação ampla, tolerância a doenças, etc.). Nesse processo, enquanto eram empilhados genes benéficos, escolhidos indiretamente por seleção fenotípica, também foram sendo acumulados genes com efeitos negativos sobre o crescimento vegetal, que, mesmo pequenos isoladamente, podem, hoje, estar limitando os novos avanços na elevação do rendimento dos cultivos agrícolas.
Indiscutivelmente, nunca se colheu tanto por unidade de área cultivada em agricultura quanto hoje. Todavia, também não se pode ignorar que os ganhos anuais em rendimento de grãos dos principais cultivos agrícolas estão decrescendo e tendendo à estabilização. Embora haja espaços para avanços em práticas de manejo dos cultivos, é pela via genética que se vislumbram novos e melhores resultados. O grande desafio é como transformar o conhecimento básico sobre os processos que governam o crescimento das plantas em ganhos reais de rendimento nas lavouras.
São muitos os caminhos possíveis. Alguns mais realistas e outros nem tanto. No tocante ao rendimento dos cultivos, lidamos com redes genéticas complexas, que governam o crescimento das plantas, cuja modificação da expressão de um único gene (caso dos bem conhecidos RR e Bt) pode não ter efeito algum pelo tamponamento conferido por outros genes atuantes nessa rede. Então, a saída parece ser a perturbação simultânea de múltiplos genes que possuem efeitos mais pronunciados sobre os processos de crescimento das plantas, de forma orientada para os órgãos de interesse econômico (grãos, por exemplo), que pode ser obtida pelo empilhamento organizado de genes desejados, sem descuidar dos efeitos pleiotrópicos indesejados entre genes.
Precisamos entender melhor a combinação de genes que potencializam o crescimento dos cultivos e, pelos caminhos da biologia sintética, desenhar redes genéticas que permitam a melhor exploração possível da disponibilidade de recursos do ambiente em agricultura. Enfim, levar os resultados gerados nas bancadas dos laboratórios e nas pesquisas in silico efetivamente aos campos de produção.
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