OPINIÃO

Coluna Celestino

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Nas diretas foi diferente
A manifestação democrática que levou milhares de pessoas às ruas protestando contra a corrupção e pedindo o impeachment de Dilma só foi possível porque existiu a avalanche popular das diretas, já! As duas eclosões de vontade popular ocorreram em momentos bem diferentes da história. Na metade da década de 80 o povo era sufocado, dolorosamente, pela falta de liberdade e crises econômicas. Sentia-se, ainda, ar carregado e o cheiro do cruor vertendo entre muitas lutas. Inocentes já haviam tombado nas varandas das chácaras e nos tétricos porões de tortura oficial. Medo insano entre sussurros das famílias sem liberdade de manifestação. Vladimir Herzog foi assassinado por manifestar seu pensamento. E outros mais, sumiram ou foram perseguidos. Mentes eram esmagadas pela perseguição ou torniquete nos interrogatórios atrabiliários, sem direito de defesa. No movimento pelas diretas, como aconteceu em Passo Fundo, houve ameaças protagonizadas pelos acólitos da ditadura. É recente ainda a lembrança perante tantas testemunhas vivas dos assaques à liberdade de manifestação, quando ordens do sistema confiscavam todo o material fotográfico dos jornalistas. Na concentração histórica ocorrida no Clube Juvenil (1984), com lideranças e manifestantes de toda a região, oficiais disfarçados infiltravam-se para impedir o “levante popular”, que era pacífico. Então, em meio à censura e o medo, o povo foi gritar por democracia.

Liberdade
Essa constatação é necessária, ao observarmos a multidão que veio protestar no dia 13, contra a corrupção no país. Foi um desabafo formidável. Nos comícios das diretas foi preciso muito mais, e muita coragem. Mesmo os que se mostravam retráteis à democracia, hoje mais maduros, usufruem dessa conquista histórica para protestarem sem medo. E isso é muito bom! Ah, e havia sérios segmentos de famintos, a comida não era boa referência para o regime ditatorial. Estão, há algumas diferenças sociológicas indisfarçáveis que levaram fervorosos brasileiros a lutar por liberdade.

Recado implacável
Nesta resumida digressão queremos afirmar um valor de muitas lutas e sacrifícios que não podem ser desprezados! A democracia! O recado das ruas que passa a ser avaliado como alerta implacável ao governo e iniciativa privada é de que a paciência do povo está se esgotando. Se não foram vistos os cinturões de pobreza em alvoroço, é de se pensar que a fome não bateu à porta dos brasileiros. Por isso não podemos correr os riscos de países afetados pela falta de alimento. Não estamos neste caos. Mas o medo do desemprego é a grande ameaça!

Roubalheira
A revolta é com o desrespeito ao patrimônio público. Nisso, a culpa maior recai sobre nababos petistas, que pregavam moral e permitiram o assalto aos cofres públicos. Se quase todos os partidos são envolvidos, nada justifica. É absurdo aceitar a ditadura da corrupção!

Exercício
Democracia é exercício real de vontades que decidem pelo interesse coletivo, do povo. Não é palavra a ser banalizada, mas utilizada na sua finalidade. E tem custo permanente. Deve ser exercitada. Os canalhas sempre vão se infiltrar no poder governamental ou na iniciativa privada, mas a democracia é o instrumento de vigilância.

Sorte lançada
A expressão atribuída a Júlio César, antes de um confronto bélico da crise romana (ano 49 a.c), “Alea jacta est” – (a sorte está lançada) aplica-se agora no cenário político nacional. Alea (latim) era o lançamento de dados em Roma. O governo Dilma, pelo visto, depende do imutável, e sempre tíbio PMDB, envolvido nos escândalos, mas bom de número no Congresso Nacional. Alguns já se declararam fiéis a Cunha, denunciado no STF, e outros ainda indefinidos, embora do mesmo governo. O processo de impeachment dirá muitas coisas ainda! Ou silenciará coisas que precisam vir à tona?

Sem trégua
É agora o momento de instalarmos políticas de decência no país, nas condutas das famílias, na paternidade responsável, na honestidade dos alimentos e saúde, ou nas licitações públicas. Cadeia a quem merece!

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