O balanço das minhas infinitas vidas (criança-adolescente-universitário-médico militar- cirurgião geral- marido – pai, espírita, cronista...) permitem recordar que minha vida já foi muito e muito mais poderia ter sido. Encantei-me, na infância-adolescência com Che (nunca com Fidel) e o pseudo-romantismo. Cuba me parecia um paraíso perdido, uma ilha utópica onde reinava a igualdade. Isso, assim, sem que eu tivesse ciência do paredón, pérfida maneira de eliminar os desvios da filosofia de pensamento do regime imposto pelos irmãos Castro. Um dia votei em Collor, o menos ruim na época, não porque era das “zelites dominantes”, mas porque não acreditava em messianismos e o discurso de Lula me parecia cheio de lugares comuns. Prometia um país governado por incólumes e todos, à exceção dele, intelectuais e com as soluções sociais a serem aplicadas em doses cavalares. Collor me parecia o menos ruim, se bem que a gente não o conhecia também. Errei em votar em Collor; erraria, como está disposto, em votar em Lula. Esta semana, fui à rua com centenas de adolescentes, com gente da meia-idade, com gente de idade inteira para gritar ao nosso Brasil porque queremos de volta o Brasil de um sonho intenso, o país de nossos filhos e netos. O regime democrático permite isso, as manifestações. Porém, a democracia pela qual tanto buscamos também tem seus desvios. Ela, a democracia, nunca existirá de fato, quando uns têm a grana e outros não. Num país democrático uns têm mais do que outros pela meritocracia ou outros mecanismos. Então, lá na praça estava o Jorge gritando palavras pelo país, pela nação, agora sem lenços, sem adesivos partidários, sem slogans, tal qual o fez em 1980, também na praça da catedral para protestar contra o aumento das mensalidades da faculdade. Eu não sou pragmaticamente contra o PT, nem a favor de PMDB ou PSDB ou PDT estou meio velho para sectarismos. Sou contra a mentira e a ladroagem. Se de algum partido viesse a ser optaria pelo velho e romântico Partido Verde, o Sancho Pança a salvar as nascentes, as matas, os animais. Sempre estimei que o intelectual e o artista no Brasil, para ter esse verniz, deveriam ser da esquerda (gauche) ou dos oprimidos, dos descamisados como dizia Collor. Um dia amei o Canto dos Livres de Cenair Maicá, as pajadas recheadas de apelos sociais do grande Jayme Caetano Braun, as Vozes Rurais de João Almeida Neto, gostava do “se hay gobierno soy contra”, usei sem saber porque o lenço maragato, o laço de quem era do contra. Hoje, tal qual o grego Sócrates, anseio pela aplicação da justiça. É justo ou é certo? Platão descreveu bem. A ideia do certo ou o errado pode ser definido a partir de uma esfera intimista. A justiça não, ela é ou deveria ser aplicada com absoluta lisura, sem viés. O povo, descamisado ou não, o povo que paga pesados impostos e não percebe o retorno está nas ruas cantando por justiça, pela aplicação da lei que deve ser igual para todos. A grita não contempla esse ou aquele partido, a grita é pela lei, pela justiça. Espero que o meu país deitado eternamente em berço esplêndido e que retornará para nosso orgulho tenha mecanismos mais consistentes de controle e aplicação do dinheiro que nos subtrai. E, aos que traem a confiança da nossa gente honesta e, no mínimo um paredón ou exílio político não me parece ser assim, uma ideia tão ruim.
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