A encenação da Paixão de Cristo, marcada para às 20h de hoje, na Catedral Metropolitana de Passo Fundo, pode ser a última edição em local coberto. A intenção é levar o espetáculo para um espaço aberto para acomodar um público que já ultrapassa os 3,5mil lugares disponíveis dentro da igreja. A história mais conhecida da humanidade será encenada pelo 13º ano consecutivo, somente na Catedral. Contabilizando as apresentações em outras igrejas, são duas décadas e meia. À frente deste trabalho, um grupo que iniciou com 15 pessoas encenando um trecho do evangelho, de aproximadamente cinco minutos de duração.
Depois de 25 anos, o grupo conta hoje com 150 pessoas envolvidas diretamente no espetáculo, que passou a ter 1h30min, de duração. São profissionais das mais diversas áreas que se dedicam durante boa parte do ano na montagem da peça. Desde o início do ano, aconteceram 10 ensaios. A coordenação geral é de Alexandre Vieira.
Os voluntários fazem parte do Movimento de Casais Jovens (MCJ). Ligado à igreja católica, o grupo realiza encontros semanais para debater temas envolvendo família, relacionamentos e religião. Os encontros acontecem na igreja Matriz Conceição.
Custos
O aperfeiçoamento da encenação, com a incorporação de novos elementos, refletiu na elevação dos custos. Para a edição deste ano, o orçamento ficou em torno de R$ 5 mil. O grupo conseguiu arrecadar até o momento apenas R$ 3mil. “Conseguimos apoio de várias pessoas, mas ainda não cobrimos todas as despesas. Quem quiser contribuir é só colocar algum valor na caixinha, durante a encenação” diz Jocenir Gollo, responsável pelo papel de Jesus Cristo. O público também poderá doar um quilo de alimento não perecível. A quantia arrecada será doada às famílias carentes.
Emoção que se renova
Encenando o papel de Jesus Cristo há 25 anos, Jocenir Gollo, diz que a emoção é diferente a cada edição. A identificação com o papel é tanta, que ele aceitou a sugestão dos amigos, e incorporou o nome de Jesus ao seu, na página de uma rede social. Por obra do acaso, Gollo também trabalha como marceneiro, junto com o pai. “Comecei na profissão aos 15 anos. Dois anos depois passei a atuar no papel de Cristo” explica.
Ao longo desta trajetória, já vivenciou experiências marcantes, como a revelação feita recentemente por um amigo. “Em uma das primeiras apresentações, lá na igreja São Francisco de Assis, na vila Santa Maria, eu estava no sepulcro, quando uma criança, de quatro ou cinco anos, se aproximou para espiar se realmente eu estava morto. Há cerca de um mês, esta pessoa, hoje com mais de 20 anos, casado e com filhos, me abraçou e se identificou como sendo a tal criança. Foi uma emoção muito grande” revela. Ser parado na rua e chamado por Jesus já virou rotina na vida do marceneiro, que diz gostar do assédio, no entanto, se preocupa com a responsabilidade de assumir esta identidade. Na semana que antecede a data, Gollo atende uma série de solicitações das escolas, para falar sobre o significado da Páscoa.
Ao comentar sobre a encenação, o marceneiro cita a passagem, logo após a Santa Ceia, como a mais marcante de seu personagem. É o momento em que ele se aproxima do público, e questiona Deus. “Pergunto por que eu?, por que vai me deixar morrer entre os pecadores?. Percebo a reação da plateia. Outra cena marcante, é o retorno da ressurreição, aí a emoção das pessoas não é mais de tristeza, mas de alegria” comenta.
Surpresa
Na edição do ano passado, Gollo vivenciou uma experiência diferente na pele de um mendigo. Sentado nas escadas da Catedral, enrolado em um cobertor, comendo restos de pão e tomando goles de cachaça, ele acompanhava a reação das pessoas que chegavam para a acompanhar a encenação da Paixão de Cristo. “Foi uma experiência incrível. Muitos casais doavam dinheiro, teve um até que me abraçou. Mas também fui hostilizados por outros. Diziam para eu sair dali, que ali não era lugar para mim” descreve. Momentos depois veio a revelação. Gollo foi entrou na igreja e começou a tirar as roupas do personagem de mendigo, diante dos olhos do público, revelando o manto branco que usava por baixo das roupas.
Realismo
O ator garante que uma das novidades na apresentação deste ano, está no realismo das cenas, principalmente na atuação dos soldados. “ Vamos tentar fazer o mais real e intenso possível” diz. Para comprovar, exibe as marcas das agressões em um dos braços.