OPINIÃO

Uma breve história recente do trigo brasileiro ?EUR" Parte 2

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No início dos anos 1990, com o fim da intervenção estatal no complexo agroindustrial do trigo no País, que até então, pelo Decreto Lei nº 210, de 27 de fevereiro de 1967, cabia ao Banco do Brasil o papel de único comprador e único vendedor de trigo em todo o território nacional, veio um período difícil para a triticultura brasileira, com drásticas reduções de área cultivada e de preços pagos aos produtores, em meio a discussões acirradas sobre a qualidade tecnológica para fins industriais do nosso trigo.

De um lado a indústria do trigo, entenda-se os moinhos, representada pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), e, do outro, os triticultores e suas organizações de produtores (grãos e sementes), defendendo ambos, legitimamente frise-se, interesses corporativos, enquanto recém começavam a serem colhidos os primeiros frutos do projeto “Mapeamento do Trigo Brasileiro”, que dariam os subsídios para a formulação do que efetivamente podemos chamar de norma de identidade, qualidade, embalagem e apresentação do trigo brasileiro, deixando para trás a classificação de “tipo único”, que havia sido estabelecida pela a Portaria nº 304, de 19 de dezembro de 1990, e a malfadada proposta de classificação preliminar dos trigos brasileiros como de baixa, média ou alta qualidade industrial.

Nessa ocasião, havia caído nas graças dos produtores rurais, o trigo BR 23, lançado pela Embrapa em 1987. Esse trigo dominava as lavouras no sul do Brasil, por ser um novo tipo de planta, apresentar potencial de rendimento elevado (5200 kg/ha foram colhidos em lavoura de 120 ha em Coxilha/RS, na safra 1989) e possuir resistência de planta adulta para ferrugem da folha entre outros atributos relevantes. Todavia, esse trigo, havia, na reunião realizada em Curitiba, nos dias 10, 11 e 12 de dezembro de 1991, recebido o rótulo de trigo de “baixa qualidade”. Na véspera da safra de 1992, com estoques elevados de sementes do trigo BR 23, antevendo as dificuldades de comercialização de uma colheita com predominância desse tipo de trigo, os representantes da Abitrigo vieram a público com um alerta do problema e chamando a atenção para a necessidade de que se atentasse com mais seriedade para o quesito qualidade tecnológica do trigo nacional.

Os jornais do País, das capitais e do interior, deram ampla publicidade a dois artigos assinados por representantes da Abitrigo. Um deles em particular, sob o título “A tragédia do trigo BR 23”, assinado pelo vice-presidente executivo da Abitrigo, Reino Pécala Rae, destacava o que se anunciava como uma tragédia, especialmente para os produtores rurais, no tocante á comercialização desse tipo de trigo, que fatalmente teria preços de mercado baixos ou quando não apenas uso como ração animal, competindo com o preço do milho. O outro, “O trigo e o cinismo”, da lavra do presidente da Abitrigo, o empresário Antenor Barros Leal, por um lado, aparentemente defendia os triticultores brasileiros, que, segundo ele, não podiam ser submetidos ao mercado se não existe mercado de trigo no País, destacando a falta de incentivos à produção de trigo no Brasil a exemplo dos existentes em países tradicionais exportadores (EUA, Canadá, etc.) e a nossa desvantagem comparativa com a Argentina, em produtividade e custos de produção, e, por outro lado, questionando a criação de “barreiras à importação de trigo”, via TEC, ou a permissão de importação apenas para os moinhos compradores também de trigo nacional, além do custo Brasil, cujo valor de frete, tirava a competividade do trigo produzido no sul do País, frente ao importado, para o consumo em outras regiões. Clamava que, no trigo, como de resto no Brasil, precisávamos apenas da verdade.

Foi quando, merece menção especial, a Embrapa Trigo, por intermédio do Chefe-Geral da época, Euclydes Minella, com a assessoria da pesquisadora Eliana Maria Guarienti, assumiu a mediação desse conflito, indústria versus triticultores, cujos desdobramentos foram... (continua)

 

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