Surto antecipado preocupa

Até o momento, Brasil já registra 46 mortes relacionadas ao vírus H1N1. Vacinação inicia no dia 30 de abril

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Onze estados registram, em 2016, casos da gripe causada pelo vírus H1N1. O chamado surto – quando os números relacionados a uma doença se elevam de forma rápida – não pode ser considerado uma epidemia, mas já causou 46 mortes no país; 38 delas em São Paulo. Outras duas mortes foram confirmadas em Santa Catarina. Para se ter ideia, no ano de 2015, o Brasil registrou cerca de 141 casos de H1N1 e 36 mortes. Os números chamam a atenção especialmente porque a circulação do vírus, em geral, ocorre entre maio e julho – meses que registram as temperaturas mais baixas - e nas regiões sul e sudeste do Brasil – que são as consideradas mais frias do país. Em 2016, não está sendo assim: o vírus começou a atacar no fim do verão. Uma das possíveis causas seriam as viagens de férias dos brasileiros para países do hemisfério norte, onde o H1N1 continua circulando. Apesar dos números elevados e crescentes, para a Secretaria Municipal da Saúde, o surto não deve chegar a Passo Fundo.

Difícil previsão
Para o infectologista Gilberto Barbosa é difícil prever a continuidade ou não do surto ou, ainda, até onde ele deve chegar. “O que nós temos de informação são casos importados, principalmente em São Paulo e Santa Catarina. Ainda é prematuro fazermos uma previsão para Passo Fundo”, inicia. “O que pode, de fato, acontecer é mutações do vírus. Isso acontece todos os anos e nunca sabemos o quanto ele pode mudar. E essa mudança significa o potencial que tem para ocorrer a doença. É difícil de prever.”, enfatiza. Ele acrescenta que, o que se pode sugerir, a princípio, é baseado no inverno dos Estados Unidos e da Europa. “Podemos sugerir um quadro semelhante. Por lá, os números ficaram dentro da média habitual deles. E uma previsão de que ocorra algo muito diferente do que vimos nesses países, acredito que não dá pra fazer”. Apesar disso,  Barbosa ressalta que a previsão de um inverno rigoroso supõe o aumento do número de casos de gripe. “O inverno rigoroso significa uma vulnerabilidade maior das pessoas, especialmente as do grupo de risco. O frio mais rigoroso expõe as pessoas a terem mais doenças. Essa previsão é um marcador: sempre que temos um inverno mais rigoroso temos repercussão maior da gripe, mas ainda não podemos dizer que haverá surto, até porque não está clara a mutação do vírus”, adianta e explica, ainda, que, a cada ano, há um aumento, considerado normal. “Isso acontece todos os anos. E a grupe é uma doença que  nunca é leve. Mesmo quando não é grave, sempre traz alguns casos complicados e aumento da mortalidade. Mas, ressalto que, nesse momento, não podemos dizer se vamos ter uma epidemia ou não”, conclui.  

O cenário em Passo Fundo
A Secretaria Municipal de Saúde também não acredita que um surto aconteça na cidade. “A expectativa é que a doença não chegue a Passo Fundo. Esse clima atual – mais seco - nos dá garantia de que não deveremos ter surto.”, inicia o secretário Luiz Arthur da Rosa Filho. Ele acredita que a vacinação, que acontece a partir de 30 de abril, vai ser essencial para garantir a expectativa. “Temos um mês para preparar a população e precisamos vacinar 60 mil pessoas – que fazem parte dos grupos de risco - e essas devem proteger as outras 140 mil que não serão vacinadas”, complementa. Apesar de não acreditar em um surto, o secretário admite que existe risco, ainda que pequeno, de a doença chegar a Passo Fundo. Se isso acontecer, não há, ainda, preparação para controlar ou estancar a gripe. “Existe risco. Mas, enquanto for um surto mais localizado, não vamos alterar grandes procedimentos. Hoje estamos com toda a nossa equipe voltada para a questão da dengue. E, normalmente, quinze dias antes da vacinação começamos as primeiras reuniões para falar sobre isso. Não identificamos a necessidade de antecipar essa preparação. Aguardamos, também, alguma posição do estado, que deve estar trabalhando em um contexto geral. Estamos alertas.”, conclui.

Vacinação
A partir dessa sexta-feira, 1º de abril, o Ministério da Saúde inicia o envio da vacina contra a influenza aos estados. A entrega aos municípios, por sua vez, é responsabilidade dos governos estaduais que, nas três primeiras remessas (1º a 15 de abril), vão receber 25,6 milhões de doses – o que corresponde a 48% do total a ser enviado para a campanha deste ano. A região sul recebeu pouco mais de 3,5 milhões de doses. A orientação do Ministério é que, a partir do recebimento das vacinas, os estados definam estratégias de contenção, conforme suas análises de risco, para a vacinação da população-alvo, observando a reserva adequada do produto para a Campanha Nacional, que acontece em todo o país do dia 30 de abril, também escolhido como o dia de mobilização em todo o Brasil, a 20 de maio. No ano passado, a Campanha imunizou 84,3% do público-alvo, ultrapassando a meta de vacinar 80% do público alvo, formado por 49,7 milhões de pessoas consideradas com mais riscos de desenvolver complicações causadas pela doença. 

Prevenção é a melhor escolha
O Ministério da Saúde reforça que, além da vacinação, a população pode – e deve – adotar outras medidas de prevenção para evitar a infecção por influenza. Cuidados com a higiene - como lavar sempre as mãos - e evitar locais com aglomeração de pessoas que facilitam a transmissão de doenças respiratórias, são as principais indicações do Ministério e que são reforçadas pelas secretarias municipais de saúde. “A orientação fundamental, não só para agora, mas para o tratamento de qualquer vírus, é a prevenção através dos cuidados de higiene. É essencial lavar as mãos e ter esses cuidados básicos. Isso vale sempre”, enfatizou Luiz Arthur. Além disso, ainda segundo o Ministério da Saúde, todos os estados estão abastecidos com o Fosfato de Oseltamivir, medicamento para tratar a doença. 

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