OPINIÃO

Uma breve história recente do trigo brasileiro ?EUR" Final

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Diante da crise que foi suscitada, às vésperas da safra 1992, pelo vazamento da classificação preliminar dos trigos brasileiros, como de baixa, média ou alta qualidade, e a publicação em jornais do artigo “A tragédia do trigo BR 23”, assinado pelo economista Reino Pécala Rae, na ocasião exercendo o cargo de vice-presidente da Abitrigo, a Embrapa Trigo (CNPT), por intermédio do Chefe-Geral da época, Euclydes Minella, com a assessoria da pesquisadora Eliana Maria Guarienti, assumiu a mediação desse conflito indústria moageira versus triticultores.
Em laudatório artigo, “Trigo nacional: Produção vs Qualidade”, assinado por Euclydes Minella, na posição de Chefe do CNPT, amplamente divulgado pelos veículos de comunicação de todo o País, foi feita uma série de esclarecimentos sobre os principais aspectos relacionados com a qualidade tecnológica do trigo para fins industriais. Desde o significado do termo qualidade, indicando a aptidão da farinha para o fabrico industrial de um produto derivado (pães, massas, biscoito, bolachas e bolos), passando por testes laboratoriais e pelo reconhecimento da influência da interação genótipo-ambiente nesse atributo, até a apresentação do esforço que vinha sendo realizado, pela indústria moageira e pelos órgãos de pesquisa, visando ao mapeamento da qualidade dos trigos brasileiros, e culminando com informações mais detalhadas sobre a qualidade do então questionado trigo BR 23 e, com uma mensagem de esperança para os triticultores brasileiros, ao frisar que “assim como conseguimos dobrar a produção do trigo em nosso País, com o esforço de todos, vencer o desafio da melhoria da qualidade será apenas uma questão de tempo”.
O projeto de “Mapeamento do Trigo Brasileiro”, que havia iniciado em 1988, cujos dados coletados nas safras 1989 e 1990, apesar dos pesares (problemas de amostragem e clima adverso para o cultivo), serviram para a primeira tentativa de classificação comercial dos nossos trigos. Essa “classificação”, uma vez tornada pública, e o provocativo artigo de Reino Pécala Rae, “A tragédia do trigo BR 23”, demostraram inequivocamente que o Brasil não podia mais prescindir de olhar para a questão qualidade tecnológica em trigo e que havia necessidade de o País, a exemplos de outros países tradicionais produtores desse cereal, ter uma norma de identidade, qualidade, embalagem e apresentação do trigo nacional.
E assim, deixados de lado os primeiros conflitos, foi dada continuidade aos trabalhos iniciados na Reunião de Avaliação do Projeto Mapeamento do Trigo Brasileiro, realizada em Curitiba de 10 a 12 de dezembro de 1991, com um novo encontro para tratar do tema, também em Curitiba, nos dia 3 e 4 de dezembro de 1992. Na ocasião, foi comunicada a instalação pela Câmara Setorial do Trigo, do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, de uma Comissão Especial de Classificação, sob a coordenação do Chefe-Geral do CNPT/Embrapa, que se reuniria, a partir de 1993, com o objetivo de propor padrões de classificação para os trigos brasileiros.
E foi assim que, como resultado do trabalho dessa Comissão Especial de Classificação, cujo papel desempenhado por Euclydes Minella e por Eliana Maria Guarienti merece os nossos respeitos, em reunião realizada na sede da Delegacia Federal de Agricultura no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, no dia 12 de novembro de 1993, foi aprovada a proposta do novo padrão para a classificação do trigo brasileiro. Essa proposta deu origem à Portaria nº 167, de 29 de julho de 1994, que estabeleceu as classes comerciais de trigo Melhorador, Superior, Intermediário e Comum, baseadas em valores de força geral de glúten e de estabilidade e no índice de queda, além do enquadramento nos tipos 1, 2 e 3. Essa portaria, efetivamente, apesar da anterior (a Portaria nº 304, de 10 de dezembro de 1990), pode ser considerada o embrião da atual norma de identidade, qualidade, embalagem e apresentação do trigo brasileiro.

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