OPINIÃO

Novos e velhos tempos

Por
· 1 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Nos meados dos anos 50 o jornalista Pompeu de Souza trouxe dos Estados Unidos a técnica conhecida como Lead que consistia em responder, logo no primeiro parágrafo de uma notícia, as principais perguntas que supostamente o leitor fazia: quem, o quê, onde, quando, como e por quê? Atualmente acrescentamos ao noticiário político - quanto?

O começo de minha geração conviveu com a tuberculose, inclemente e impiedosa. Levou de minha família minha tia materna Cica, aos 24 anos e eu tinha apenas 3 anos. Ela me pegava em seus braços e cantava: encosta tua cabecinha no meu ombro e chora. Muitos morreram como loucos, como o grande jogador carioca Heleno de Freitas, sem que se soubesse que tinha neurossífilis. Na metade de meu tempo surgiu a Aids, impiedosa e inclemente, como todo seu aparato de terror e de discriminação. Levou meu primo Lelo aos 44 anos.

Minha turma, hoje sessentões, vivia alheia ao que acontecia no Brasil, mesmo porque as comunicações e censura funcionavam daquele jeito. Enquanto no início dos anos 60 a gente ouvia e cantarolava Yves Montand em Les feuilles mortes o pau pegava entre os políticos e militares. No IV Ciclo de Debates da Cultura Contemporânea (RJ) na metade dos anos 70 alguns palestrantes se salientaram: FHC (sociólogo), Teotônio Vilela (ex-Arena) e Lula (metalúrgico). FHC defendia o estado mínimo e Lula dizia que “estudante só tem idealismo durante quatro anos, depois passa a explorar a classe trabalhadora” – a plateia delirava. Eu, nessa época estava enfeitiçado pela faculdade, estava apaixonado (foram tantas vezes) e curtia Guilherme Arantes, Agepê e The Lettermen (love me like a stranger). Nessa época o professor Heitor Verardi era meu parâmetro, e de tantos outros, tipo reserva de qualidade. Era ouvir e escutar, aprender para viver bem.

A doença que está devastando a geração de jovens é a do desalento, da incredulidade, de sensação de pizza permanente, é do loteamento de cargos públicos, é a da falta de opção política. A doença é a do desemprego, da falta de grana para manter o Fies (pátria educadora), é a falta de grana para educação, segurança e saúde. As sequelas tendem a ser longas e, ao contrário de há 50 anos, hoje a comunicação é instantânea. Calculo que no máximo 25% do povo tem algum engajamento político fervoroso; os demais são cidadãos comuns que vão tocando a vida na esperança de dias melhores. Chega de esperança, é hora de abandonarmos o sonho e encarar a realidade. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Gostou? Compartilhe