Preocupados com a frequência de assaltos, motoristas e cobradores das três empresas de transporte coletivo de Passo Fundo decidiram protestar na manhã de ontem, por mais segurança. Cerca de 500 trabalhadores se reuniram, por volta das 10h, em frente ao fórum, onde aconteceram as manifestações. A circulação dos ônibus foi retomada por volta das 14h30. Em algumas paradas os passageiros chegaram a formar filas.
A decisão pelo protesto havia sido acertada em assembleia realizada na manhã de quinta-feira. Pouco antes das 10h de ontem, os primeiros ônibus começaram a estacionar ao longo da avenida Brasil, deixando o trânsito livre na pista da esquerda. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Coletivos Urbanos de Passo Fundo (Sindiurb), Miguel dos Santos, disse que o protesto tinha a intenção de chamar a atenção, principalmente do judiciário e do Ministério Público. “Se a Brigada Militar prende e logo os assaltantes estão nas ruas novamente, alguma coisa precisa ser feita” alega.
Prevista para durar cerca de duas horas, a manifestação acabou se estendendo quando a notícia de que o autor de um assalto a ônibus, na noite passada, havia sido detido e liberado, chegou aos manifestantes. Diante da informação, eles passaram a exigir a presença de um juiz e de um representante da Brigada Militar, como condição para encerrar o protesto. Diretora do fórum, a juíza Rossana Gelain conversou com os trabalhadores e explicou como acontece a atuação e as decisões judiciário.
O comandante interino do 3 RPMon, o major Carvalho também compareceu em frente ao fórum. Ele falou do trabalho da Brigada e disse que as ações nos ônibus serão intensificadas. “Foi importante a participação dos dois. Pela primeira vez um representante do judiciário veio falar com a gente, explicar para os trabalhadores como as coisas acontecem. Ouviram diretamente dela. Assim como a fala do major” avaliou Santos.
Incidência
Baseado nos relatos da categoria, o presidente do Sindiurb afirma que a média é de pelo menos dois assaltos por dia nos coletivos. Regiões como o bairro Integração e Petrópolis, entre a igreja Santo Antônio e o cemitério municipal, apresentam maior incidência. Enquanto a reportagem fazia o levantamento de alguns casos, um motorista disparou “É mais fácil tu perguntar aqui quem ainda não foi assaltado”.
Além da frequência, a ousadia e a violência nas ações têm sido outra preocupação dos trabalhadores. Ha 11 meses desempenhando a função de cobradora, na empresa Coleurb, Andreia de Oliveira Estigarribia, 36 anos, recentemente conheceu de perto esta realidade.
No dia 17 de março, trabalhava na linha Lucas Araújo/Parque Farroupilha, quando por volta das 8h, um homem entrou no coletivo. Ao se aproximar da catraca, levantou a camiseta e sacou uma espingarda calibre 12, cano curto. “Entrei em pânico, não tinha reação nenhuma. Ele pedia pra eu colocar o dinheiro numa sacola, mas não conseguia. Então disse que eu estava demorando, e apontou a arma na minha direção. Cumpri a ordem. O assaltante desembarcou e bateu com a espingarda no ônibus, sinalizando para o motorista seguir em frente ” recorda. Em estado de choque, a vítima, que é casada e mãe de cinco filhos, não conseguiu trabalhar no dia seguinte. “Nunca mais vou esquecer deste dia” conta.
Motorista da Coleurb, Everton de Oliveira, 37 anos, por pouco não foi assaltado duas vezes na mesma volta dentro do bairro Integração. No domingo, ele fazia a linha Morada do Sol/São Luiz Gonzaga, quando foi atacado no Jaboticabal. Após registrar a ocorrência com uma guarnição da Brigada Militar, no local, desviou a rota para sair do bairro. Ao apanhar uma passageira, foi informado de que dois homens armados com uma faca estavam na parada aguardando o retorno do ônibus para realizar o assalto.
“Não queremos a prisão de um ou outro assaltante, isso não resolve. Queremos mais segurança permanente. A Brigada Militar precisa sair da sua zona de conforto” desabafou um motorista. Além dos assaltos, em alguns bairros os ônibus estão sendo apedrejados ou atingidos por rojões.
“Estamos aqui protestando para que o judiciário aplique a lei com mais rigor. Tem bairros em Passo Fundo que não dá mais para entrar de ônibus. Estamos fazendo um pedido de socorro ao judiciário” disse Miguel. Durante o ato, foram coletadas assinaturas dos trabalhadores. O documento foi entregue à Justiça e ao Ministério Público.