Prelibação do vice
A prelibação exercida pelo vice-presidente da República, Michel Temer, publicada por ele mesmo, foi a exposição mais evidente de um golpe deflagrado ardilosamente. E Temer chegou a afirmar que a informação sobre seu gesto triunfal foi um erro de digitação, “por acaso”. Só a convicção plena de que a presidente Dilma será deposta pelo impeachment permitiria tal antecipação, com requintes de atos de poder como sucessor na presidência. O comandante licenciado do PMDB não só rompeu com a parceria presidencial, mas cindiu a trajetória eleitoral irremediavelmente. Deve estar certo, ainda, de que o líder Eduardo Cunha terá sua plena garantia de impunidade aceitando o segundo lugar no pódio do país. E tudo aconteceu no momento em que se abria processo de impeachment também contra o vice-presidente. Embora se duvide de que a iniciativa venha prosperar, a responsabilização conjunta, como conseqüência de provável impedimento, é desejada também por respeitável parcela do povo razoavelmente informado. Ao revelar publicamente que se prepara para assumir a presidência, Temer acende holofote à beira de precipício onde se travam as lutas partidárias. O governo define isso tudo como “golpe branco” da oposição.
PT armou inimigo
Sob o aspecto eleitoral, a oposição foi derrotada nas urnas e nem parecia ter condições de reverter qualquer coisa. Em tese, a oposição não se estabelecia com competência suficiente, nem como força organizada para se opor com potência máxima. Estava e está enredada nas próprias redes, com envolvimentos em corrupção. Mas o PT parecia alheio a tudo, sem reconhecer o baque em suas fileiras diante das denúncias. A corrupção que pegou geral nos partidos, principalmente PT e PMDB tornou-se entrave intransponível para o partido da presidente, como árvore mestre, que apregoava seriedade. Então, com o apodrecimento desta árvore, sem a poda urgente, a fragilidade governista tornou-se a arma da oposição que foi às ruas, conduzida por diversos fatores conhecidos. Os atos criminosos praticados contra o patrimônio público não foram separados em tempo na solidariedade petista. Entregaram o ouro!
Verdades
E o verbo, nos moldes da advertência francesa “calomniez, calomniez, il em reste quelque chose” (calunie, calunie, e alguma coisa restará da calúnia), se fez verdades aceitas pela população. Mas, a conduta de líderes governistas, reforçou demais. Embora previsto na CF, do ponto de vista partidário o impeachment, a ser ainda votado pelo Congresso Nacional, é mesmo “Golpe Branco”.
O problema
Parece mesmo que a eventual derrubada da presidente Dilma pelo Legislativo poderia ser absorvida. Acontece que a bancada que já comemora o poder, liderada por Cunha e Temer, assusta demais. E não somos nós quem afirmamos. O ministro Barbosa alertou para isso, horrorizado com o perigo oportunista. E o povo entendeu isso! Os deputados (juízes políticos), grande parte comprometidos com propina, vão decidir. Este é o panorama lúgubre das posições em confronto. A sorte está lançada, mas não podemos arcar com mais azar, é perigoso!
Gatos e bancos
Além do crime como ofensa à sociedade a histórica falta de moral contaminou a iniciativa privada. Vejam as recentes denúncias de corrupção de empresas – Leite Compensado, no escândalo das próteses, e os gatos do setor de energia. Todos com cometimento de camadas de elite, em residências e condomínios de classe média. Soma-se a isso o descontrole do orçamento doméstico por conta de um consumismo enganoso. Muita gente devendo tudo sem conquistar nada! E os bancos fazendo rodar a espiral do dinheiro que envolve o cotidiano. E eles lucram cada vez mais, desdenhando o sofrimento do povo.
Retoques:
Na curiosa reforma antecipada pelo PMDB, um item chamou atenção, propondo aliviar os termos da lei ambiental para grandes projetos. Influência da UDR.
Cuidado! Lobos do Congresso com pele de cordeiro ensaiam a retomada da Lei da Mordaça, que não se confunde com presunção de inocência!
Ave Cunha! Ave Temer! ?????