OPINIÃO

Conversas de curadores

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Em instigantes diálogos, reunidos no livro “A era da curadoria: O que importa é saber o que importa” (edições Papirus 7 Mares, 2015), Gilberto Dimenstein e Mario Sergio Cortella discutem os tempos atuais em que nos vemos imersos em um mundo marcado pelo excesso de informação, sem que isso, necessariamente, signifique excesso de conhecimento, podendo, inclusive, significar excesso de confusão. Como lidar melhor com esse novo momento da história da humanidade em que nunca se produziu tanto conhecimento, num prazo tão curto e sendo esses disseminados de forma tão rápida? É quando, efetivamente, e isso está cada vez mais claro no mundo contemporâneo, o que importa é saber o que importa.
Gilberto Dimenstein e Mario Sergio Cortella, embora seguindo trajetórias inversas trilharam os mesmos caminhos. Dimenstein começou na comunicação (jornalismo) e enveredou para a educação (autor de livros e projetos educacionais de sucesso); e Cortella a partir da educação (professor) se consagrou como comunicador (palestrante). Ambos têm consciência que o papel da educação e da comunicação na era do conhecimento é crucial. Segundo eles, há que se comunicar para empoderar. E a melhor forma de empoderar é educar. É quando o jornalista (literalmente) conta o dia e o pedagogo prepara o futuro, unindo comunicação e educação.
Diante da constatação óbvia que informação não tem valor quando desprovida de contexto, cabe a indagação: quais são os limites da comunicação e quais são os limites da educação? Indiscutivelmente, a função da educação não é apenas levar o aluno a decorar informações ou conhecimentos ao estilo de um espetáculo circense de demonstração mnemônica. É, antes de tudo, desenvolver habilidades. E é ai que a comunicação assume um protagonismo de escol, uma vez que os conhecimentos já tomaram e vão tomar cada vez mais novas formas interativas e interessantes de apreensão. A escolarização seguindo o modelo em matérias segmentadas, herança do século 19, tem seus dias contados. A universidade do futuro com a sala de aula nos moldes que existe hoje nos parece inimaginável. Eis que então, nesses novos tempos, a figura do curador, para lidar com conhecimentos complexos, adquire proeminência até então desconhecida.
O curador é, por definição, alguém encarregado de cuidar de algo, que, no caso em pauta, tratando-se de curadoria do conhecimento, é o próprio conhecimento, organizando-o e tornando-o disponível e sistematizado para usufruto de outros. Esse tipo de curadoria funcionaria como uma espécie de repositório de credibilidade onde as pessoas vão buscar informações.
Em tempos de todo mundo conectado, com queda cada vez mais vertiginosa da intermediação da informação, cresce o papel dos curadores do conhecimento. Quando a impaciência para aprender toma conta e ninguém mais parece ter paciência para construir uma base sólida de conhecimentos, maior relevância ainda deve ser dada à curadoria do conhecimento.
Nesses novos tempos, quando o acesso ao conhecimento parece ilimitado, conforme bem frisam Gilberto Dimenstein e Mario Sergio Cortella, há que se ter cuidado com a vaidade, que é a mãe de muitas ilusões, desde a vaidade profissional até as nossas mesquinharias do dia a dia. Ambos estudaram na Universidade Harvard e sublinharam, literalmente: um dos lugares mais arrogantes da história da humanidade chama-se Harvard. Por mais que os profissionais de lá pareçam humildes, são de uma arrogância absoluta. E aí, o pessoal da medicina falava: “Não vamos a congressos. Só vamos para falar. Porque se já não soubermos do assunto em questão, é porque não tem importância”. E completavam: “Se tem alguma coisa relevante sendo feita em qualquer área da medicina, de alguma forma já temos de saber. Não vai ser num congresso que vamos tomar conhecimento... Se nos chamarem para falar, nós vamos; para assistir, não”.
Eis porque a grande angustia atual, segundo uma máxima bem conhecida, não é saber o que não sabemos. É não saber o que não sabemos.

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