OPINIÃO

Malandragem

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O grande dia chegou. Parecia final de copa do mundo, tal era a tensão e o clima de expectativa vivido no Brasil, pela votação da admissibilidade do impeachment da Presidente Dilma, pela Câmara dos Deputados no último domingo, 17 de abril. O clima de expectativa criado no Brasil era de que a aprovação da admissibilidade fosse aprovada, e que algumas almas, deputados ou deputadas, pudessem transmitir, serenidade, honradez, pudessem de fato ser legítimos representantes do povo. As principais redes de televisão transmitiram a sessão da câmara ao vivo, telões montados em praça pública, tudo preparado para uma grande festa, a festa da democracia.
Um acordo não tácito parecia existir na sociedade, acordo de que alguma precisava acontecer e de fato aconteceu. Sessão histórica, número de parlamentares presentes históricos, tudo de acordo com as expectativas e as vibrações dos defensores do governo e dos favoráveis ao impedimento da presidente ditando o ritmo da sessão legislativa.
Quando do seu início, exaltações com o primeiro voto, vibrações efusivas com a dianteira de votos aberta em favor do impedimento da presidente Dilma. Pois bem, conforme a votação avançava, um grande espasmo tomou conta da torcida que assistia pela TV. Vários foram os questionamentos: será mesmo que aquilo é um deputado? O que eles estão falando? Como podem nos representar? Cadê a serenidade? Onde foram parar nossos representantes? Meu Deus! Que horror.
Segundo o jornalista Fernando Rodrigues do UOL, “Deus” foi mencionado 66 vezes por 54 deputados. “Família” apareceu 151 vezes nas notas taquigráficas da votação de domingo e a expressão “pela minha família” foi dita 44 vezes. O termo “golpe” apareceu 143 vezes. A expressão “pedalada fiscal” surgiu 13 vezes e “crime de responsabilidade” foi mencionado em 62 momentos. “Decreto” e “decretos” somam 16 ocorrências. Menções a membros específicos das famílias dos deputados também foram populares nos votos. “Meu filho” e “minha filha” somam 23 registros e “minha esposa” é citada 18 vezes. “Netos” aparecem 20 vezes.
Ou seja, um total de 367 deputados e deputadas aprovaram a admissibilidade do pedido de impeachment, citando somente 13 vezes “pedaladas fiscais” e 62 vezes “crime de responsabilidade”. Pouco, muito pouco para o tamanho da expectativa que o povo tinha para com os seus representantes. Para o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e hoje advogado Joaquim Barbosa "é de chorar de vergonha! Simplesmente patético!".
O epílogo de toda a narrativa vivida no Brasil nos últimos dois anos, é o início do segundo mandato de Dilma Rousseff. Ela acreditou que era hora de fustigar o PMDB. De acordo com o jornalista Josias de Souza, os ministros Gilberto Kassab (PSD) das Cidades e Cid Gomes (PROS) da Educação tinham a missão de costurar uma nova maioria congressual que não fosse tão dependente do PMDB. E instigou o petista Arlindo Chinaglia a disputar o comando da Câmara com Eduardo Cunha.
Josias de Souza afirma que, Dilma inaugurou um novo sistema de governo: o presidencialismo sem presidente. Como poder vazio é algo que não existe, Eduardo Cunha tratou de ocupar o espaço. E a criatura de Lula foi apresentada a uma evidência histórica: no Brasil pós-redemocratização, inaugurado em 1985, sempre que um presidente achou que poderia engolir o PMDB, foi mastigado. Quando joga a favor, a legenda fornece estabilidade congressual. Contra, torna-se uma força desestabilizadora. Não podemos negar que o atual Congresso Nacional é reflexo do seu povo.
A música “Malandragem” de Cássia Eller parece refletir o atual momento político vivido no país: “Por ser uma menina má/ Quem sabe o príncipe virou um chato - Que vive dando no meu saco/ Quem sabe a vida é não sonhar”.
Enfim, a hora da verdade chegou, o grande vencedor foi o PMDB. O derrotado foi Lula e o PT. Os frustrados foram o povo que se decepcionaram com o nível de seus representantes. Afinal, jabuti não sobe em árvore, alguém o coloca lá. Quem elegeu nossos representantes?

Adriano José da Silva
Coordenador da Escola de Administração da IMED

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