Parece simples, mas não é! De um lado a crise que baqueou a população. Há pouco vivíamos momento econômico sem precedentes, com ares democráticos e a economia promissora. Elevação na média de remuneração, coisa que parecia dotar de asa o cidadão. Era perceptível na renda familiar, empregabilidade e acesso aos programas sociais, desde o Bolsa Família, até oportunidade de curso superior, ou casa própria. E o ouro negro do Pré Sal! Mas, o final de 2013 prenunciava o temporal. O mundo em crise aberta, queda do preço do petróleo e a queda do Euro, além da desaceleração da China. Ao mesmo tempo eclodiram os escândalos envolvendo gestão pública, o PT e o PMDB, aliados no poder. A tolerância com a corrupção gerou revolta abrupta (e justa), com tantas perdas. E, sem recorrer a intervenção militar, o povo foi às ruas para criar outro rumo. A democracia resiste aos que renegam sua existência, já que as lideranças políticas, em proporção assustadora, estão imersas em severas acusações. E o povo insiste em resistir a tudo querendo solução pacífica. Este é o clima geral, incluindo-se o processo de impeachment da presidente, que se apresenta como desfecho inexorável. O nó górdio do momento é a dúvida que paira sobre o avanço das investigações e responsabilizações que vão muito além do PT. Eduardo Cunha (PMDB) representa outras tantas punhaladas nas costas do povo, mas é protegido por uma casta comprometida. O povo parece quieto, mas não aceita ser refém de uma batalha pela metade, em campo minado, ou uma operação urdida nos bastidores para premiar um golpe branco. Todos sabem que a corrupção campeou em nossa história, mas a grande massa está acima dos ódios partidários e deseja a sacudida urgente!
Sem prevaricação
Embora uma camada da elite sinta-se de barriga cheia com o processo de impeachment – de panelas guardadas, a grande maioria sabe que é preciso desmembrar a ação da PF da disputa eleitoral. Abafar a investigação que beneficie corruptos de grosso calibre que insistem em refestelar-se, sem vergonha na cara perante a nação, seria final fúnebre da uma jornada difícil que vem sugando tudo no Brasil. Nossa gente sente na carne as dificuldades da crise. Por isso está decidida a não prevaricar. Sabe que perdoar criminosos corruptos é prejudicar as pessoas de bem (“bonis nocet quisquis pepercerit malis”).
Fogo na alma
Toda essa angústia que aflige a alma do povo é como o sol distante com miragens de esperança. Paira uma consciência de que podemos sair desta situação. É como diz o poeta uruguaio: Se há fogo em tua alma, há vida em teus sonhos. E numa luta democrática!
Temor de Temer
A coisa está tão tenebrosa que nada é descartável. Observadores notam alguns fatores, como o baixo nível de aceitação de Temer, especialmente pelo vínculo com Eduardo Cunha. Dilma expõe francamente uma guinada em sua fala, com expressões tipo: paz, diálogo e debate! Os tucanos espreitam e não desprezam a possibilidade de meter o bico, e querem ser protagonistas. Então, já se fala na proposta de antecipar eleições. É o maior temor de Temer!
Sem esfriar
O orçamento da União é cobertor curto. O ministro Aragão, todavia, antecipou a garantia de recursos para a Polícia Federal, que faz a varredura nas investigações. Quem esperava esfriamento no combate à corrupção, talvez não contasse com a priorização do governo.
Retoques:
* Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa, foca outras tantas repercussões da grande corrupção. Uma delas é a cruel concentração de riquezas no mundo.
* Todos já sabiam de diferentes momentos da propina em obras públicas no Brasil, ao longo da história. A eficiência dos órgãos de investigação é que mudou!
* A vacinação contra a gripe continua mostrando que é possível o bom desempenho do serviço público.