A aração e a gradagem de solos ainda eram práticas bastante usadas na agricultura gaúcha, quando, em agosto de 1984, instigados por uma campanha patrocinada pelas entidades ligadas ao setor rural do município de Passo Fundo, com base no mote “Plante Bem, Plante Sempre”, em cujas mensagens veiculadas pela televisão, especificamente em uma delas, o médico veterinário João Kurtz Amantino encerrava a sua fala afirmando “Caberá, no futuro, ao campo nativo, a produção de grãos”; um grupo de pesquisadores da Embrapa Trigo, sob a liderança de Roque Gilberto Annes Tomasini, resolveu iniciar uma experiência que até então não havia sido praticada em nosso meio, envolvendo o Sistema Plantio Direto (SPD) em campo nativo melhorado, com o foco em produção de grãos e forragem, integrando lavoura e pecuária.
O vaticínio de João Kurtz Amantino não foi de todo tão desarrazoado quanto poderia parecer na época. O sistema trigo e soja, que predominava no nosso meio, vinha demonstrando certas fragilidades, além de perda de produtividade das lavouras, que, inclusive, ameaçava a sustentabilidade econômica desse sistema. A integração lavoura-pecuária e o sistema plantio direto davam os primeiros passos como práticas promissoras em agricultura de base conservacionista. João Kurtz Amantino, um pecuarista vocacionado, apostou na força da inovação, introduzindo, a partir de um sistema de pastoreio rotativo Voisin à la brasileira, com a orientação dos pesquisadores da Embrapa Trigo, um projeto de integração lavoura-pecuária, com plantio de soja, trigo, milho e pastagens em área de campo bruto melhorado (denominação da época para os campos nativos melhorados), manejado sob plantio direto. E os resultados não tardaram a aparecer na propriedade de João Kurtz Amantino, com a elevação da produtividade do trigo e da soja e a redução do tempo necessário para levar um boi ao abate.
Esse marco histórico do SPD em campo nativo melhorado envolveu a semeadura de várias espécies anuais, com coordenação e execução operacional pela Embrapa Trigo. E o reconhecimento desse pioneirismo deu-se, efetivamente, por ocasião das comemorações do aniversário de 150 anos do município de Passo Fundo (1857- 2007), quando, a partir de uma inciativa do então vereador Édison Nunes, encaminhada ao Executivo Municipal em 20 de agosto de 2007, foi aprovada a construção de um monumento em homenagem ao “Pioneirismo na prática de plantio direto em campo nativo, sobre pastoreio rotativo”, tendo como local de instalação a Fazenda São João, às margens da Rodovia BR 285, onde o trabalho de campo foi originalmente realizado.
E assim, na tarde de 11 de dezembro de 2007, com vasta programação que iniciou às 14h e encerrou às 18h, o aludido monumento foi inaugurado, na presença do prefeito de Passo Fundo, Airton Dipp, do presidente da Câmara de Vereadores, Luiz Miguel Scheis, do edil idealizador da honraria, o vereador Édison Nunes, do então Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Trigo, João Leonardo Fernandes Pires, e dos homenageados. Na ocasião, em nome do povo de Passo Fundo, pelo pioneirismo do Plantio Direto em campo nativo sob pastejo rotativo, em 1984, foram homenageados João Kurtz Amantino, proprietário da Fazenda São João, e os pesquisadores da Embrapa Trigo Roque Gilberto Annes Tomasini, Luiz Ricardo Pereira, José Alberto Rohe de Oliveira Velloso, Ivo Ambrosi, José Antonio Portella, Arcenio Sattler e Antônio Faganello, a Semeato – Indústria e Comércio S/A e a Fundiferro Fundição de Ferro Ltda.
Quem cruzar pela Rodovia BR 295, no sentido Passo Fundo Mato a Castelhano, logo após a barragem da Corsan, com um pouco de atenção, poderá observar esse monumento. Uma descrição detalhada do trabalho pioneiro e seus principais resultados podem ser encontrados no documento “Campo bruto melhorado: grãos solo e vida”, de Roque Gilberto Annes Tomasini e outros, edições EMBRAPA-CNPT, 1987, 22p.