Quinta, 28 de abril, 13:15 horas, venho até a Praça Tamandaré para me deliciar ao convidativo calor do sol, o céu está de um azul cintilante e o verde das plantas e árvores oferecem um espetáculo indescritível. Ligo para Eduardo porque algumas boas lembranças de há quase quarenta anos insistem em me povoar. Ali, naquele passado tão presente, estão alguns de meus melhores amigos, estão algumas inesquecíveis músicas. É possível contar histórias de cada canto da praça, é possível contar histórias de quase os bancos da praça como aquele ali, por exemplo, no qual me sentei em 1980 quando, estudante do quarto ano que era, acompanhei o óbito de uma criança que estava internada. O que senti me amargurou tanto que necessitei sentar por mais de três horas a olhar o playground para contemplar os pais-mães e filhos a brincar com a leveza de quem não convive com vida-morte como é a quase rotina de um estudante de medicina. Dessa indispensável pausa diante do playground numa tarde de sol semelhante a essa é que me recompus e voltei para o hospital porque era esse o meu destino. Muitas lembranças e pensamentos desfilam diante de meus olhos, a paz do momento quase me faz esquecer o vexame do meu Grêmio na noite de ontem. Mas, meu time é meu coração, é meu filho e a gente de sã consciência nunca abandona um filho. Lutaremos até o fim.
Dia desses me chamaram de escritor, que bobagem. Sou apenas um cronista, de frases esparsas e de pensamentos inconstantes. Sou uma espécie de observador do cotidiano e de suas vicissitudes, descritor de fraquezas, de ambiguidades, partilhador de sonhos. Penso em Armando (Manduca) e Margot, queridos amigos, dos quais fui merecedor de ternos comentários semanais sobre o que escrevo e me pergunto se Manduca continuará lendo, agora que habita a mesma dimensão que meus pais? Será que quando eu me for continuarei mandando crônicas além túmulo?
Dia de sol e de paz enquanto o país está mergulhado em incertezas. Engraçado é porque há 30-40 anos não parecia que era assim ou a gente não sabia ou não havia autorização para se saber. Dizem que o sol é para todos e é absolutamente democrático e de graça e seus intensos raios de luz e de calor podem permanecer absolutamente indiferentes a muitos, mas não ao cronista e sua vontade de fazer homenagem à natureza, aquela que, ao contrário das pessoas, dificilmente vai causar dissabores. O sol prá começarmos a sorrir.
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