OPINIÃO

A busca pela autossuficiência em cevada e malte no Brasil (Parte 1)

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Em meados dos anos 1970, nos tempos áureos das politicas nacionalistas do regime militar que havia sido implantado no País em 1964, seguindo o modelo econômico de busca pela autossuficiência de tudo que pudesse representar poupança de divisas com importações, foi criado o “Programa Nacional de Auto-Suficiência de Cevada e Malte”, a partir do relatório de um Grupo de Trabalho (GT) instituído pela Portaria nº 019, datada de 9 de abril de 1976, de competência do Ministério da Agricultura. O referido GT foi coordenado por Vilson de Luca (Ministério da Agricultura) e teve como membros Ladyr Teixeira Mendes (Ministério da Fazenda), João Alves Borges (Ministério da Indústria e Comércio), Edison de Andrade Costa (CFP), José Rodolfo Hülse (BACEN), Ernst Christian Lamster (Embrater), Ottoni de Souza Rosa (Embrapa) e, representando o Sindicato Nacional de Indústria de Cerveja de Baixa Fermentação, Luiz Carlos Stenghel, Giampiero Baldanzi, Cláudio Barbosa Torres, Jorge Kretzmann e Sérgio Laux. Também houve a colaboração efetiva de setores ligados ao cooperativismo, à CACEX e ao FINAME, e à CIBRAZEM.
Ao GT foi dado o prazo limite de 31 de maio de 1976 para a apresentação do relatório, que foi embasado em informações coletadas junto aos setores público e privado. Em apertada síntese, ficou evidenciado que, na época, o Brasil era o terceiro país comprador de malte no mercado mundial, com dispêndio, em 1975, ao redor de US$ 68 milhões. A esse gasto deveria ser somado mais US$ 6 milhões com a importação de cevada para abastecimento de parte da capacidade instalada das maltarias. Acrescente-se ainda o diagnóstico de baixa produção de matéria prima (23,4 mil toneladas de cevada, em 1975), concentrada no sul do Brasil, além de um parque industrial de maltarias com instalações antigas e superadas tecnologicamente. Todavia, uma vez feitos os investimentos necessários, o GT vislumbrou a possibilidade de alcance de autossuficiência em cevada e malte no Brasil em um prazo de oito anos, com previsão de economia de divisas da ordem de US$ 316 milhões. Para cumprir a meta da autossuficiência em cevada e malte até 1984, previu-se a necessidade de recursos para investimentos em silos e benfeitorias nas maltarias; além de alocação adicional em crédito rural, em mecanismo de EGF, em assistência técnica e para a criação de um programa de pesquisa em cevada.
A Embrapa Trigo, na ocasião chefiada por Ottoni de Souza Rosa, deu início à missão que lhe competia, criando um programa de pesquisa em cevada a partir da contratação, em 17 de fevereiro de 1977, de Gerardo Nicolás Arias Durán y Veiga, pesquisador uruguaio naturalizado brasileiro (23/02/1979). Gerardo Arias, até a aposentadoria em 12 de dezembro de 2005, incluindo os períodos de afastamento para cumprir o programa de doutorado na Universidade Técnica de Munique/Alemanha (1980-1985), atuar como consultor da FAO no Uruguai (1989-1991) e pós-doutorado na Universidade do Estado de Washington/USA (2001-2002), trabalhou por 28 anos com pesquisa e desenvolvimento da cultura da cevada na Embrapa. O bloco de cruzamentos começou a ser organizado em 1977, sob a responsabilidade do pesquisador Edson Iorczeski, com linhagens de cevada cervejeira de duas fileiras oriundas de Winnipeg/Canadá e coleções recebidas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), do Instituto de Pesquisas Agronômicas do Rio Grande do Sul (IPAGRO), da International Plant Breeders (IPB) e das companhias cervejeiras Antárctica e Brahma; buscando principalmente resistência à doença mancha em rede. O pesquisador Euclydes Minella se incorporou ao programa de melhoramento genético de cevada em 1979, iniciando a seleção da população descendente dos cruzamentos entre as cevadas canadenses e brasileiras, que deram origem às linhagens básicas do programa de melhoramento genético de cevada da Embrapa. (continua...)

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