Completei 59 anos bem vividos neste 05 de maio. Meu pai Jorge faria 82, neste dia 06 e poderíamos estar comemorando mais um épico resultado de futebol do imortal tricolor mas, ele fez mais um fiasco e entristece a grande nação gremista por se mostrar um time sem alma, segundo os comentaristas. Eu acho que meu time é mais ou menos, essa é a explicação. Ainda bem que meu velho não assistiu ao jogo porque, cara, só bebendo. Estamos vivendo a síndrome dos 7x1. Todos os times brasileiros estão na pindaíba, anestesiados, finalizados. Principalmente frente aos castelhanos.
Há alguns anos morria Joceli, goleiro e tarolista da gloriosa banda do colégio marista Conceição. Naquela confusão da revolta dos motoqueiros Joceli levou um tiro e morreu em consequência dos ferimentos. No dia de seu enterro desabei quando percebi as luvas de com o distintivo do Grêmio sobre seu caixão. Por que desabei? Porque percebi que ele, Joceli, era igual a mim, um cara simples, amigo de fé, amigo do coração e, de repente, estava em um caixão, inerte. E, aí é que me refiro, tudo parece monstruosamente dolorido quando estamos visceralmente envolvidos ou sem grandes repercussões quando estamos de fora. É fácil emitir opinião contra aborto quando a coisa não está acontecendo na família da gente, é fácil tentar consolar alguém que sofre quando não passamos pelo mesmo infortúnio. Como falar das tragédias humanas nos acidentes de trânsito? Sempre parece números frios e somente quem perdeu familiares pode revelar o que se passa na cabeça de cada um. As estradas para Marau e Tapejara são muito perigosas mas, quem se importa além dos que choram para prantear os que perderam a vida nos acidentes de trânsito? Quem, bem agasalhado, se importa com os que passam frio? Quem, enfastiado, se importa com quem tem fome?
Por tudo isso é que a expertise ou experiência de cada um de nós vale mais do que qualquer edição de livro. Não há como ressarcir a um relato idôneo de situações vividas. O calo das mãos, os suores na face, as noites mal dormidas, as veias saltadas, as rugas e o cenho franzido, o branco dos cabelos dizem tudo ou quase tudo. As almas amarguradas devem ser ouvidas quando se trabalha na resolução dos problemas. Quase sempre há uma sandice num crime. Para um delito acontecer deve haver uma mistura dos seguintes ingredientes: um objeto (arma), um motivo (discussão) e um estimulante (droga ou álcool). Na revolta dos motoqueiros houve ingredientes incendiários que à luz da distância do tempo leva à pergunta: como pudemos deixar isso acontecer?
O desastre do Grêmio deve deixar uma lição. Que bom as coisas da vida fossem igual ao futebol em que se cai e se levanta, em que se perde e se ganha, onde amamos e sofremos com a clareza de que é tudo momento. Mas, não deixamos de torcer para o time do coração. Joceli foi vítima de um infortúnio e levou para sempre suas luvas e seu Grêmio e deixou suas boas lembranças, lembranças de um cara de fé.