Uma vez posto em marcha o “Programa Nacional de Auto-Suficiência de Cevada e Malte”, com o aporte de recursos do Governo Federal, em 1977, os trabalhos de pesquisa com a cultura de cevada efetivamente tiveram início na Embrapa. Até então, o esforço de pesquisa com cevada na esfera de atuação das instituições públicas brasileiras, ainda que tenha existido, não gozava de reconhecimento público. O domínio, tanto em melhoramento genético quanto em manejo de cultivo e em tecnologia de malteação, estava sob o controle da inciativa privada, que fomentava a produção de cevada no Brasil; notoriamente a Companhia Cervejaria Brahma e a Companhia Antarctica Paulista - IBBC.
Admite-se que, apesar de a cevada ter sido trazida para o Brasil desde os primeiros anos da colonização portuguesa, essa cultura somente adquiriu importância econômica a partir dos anos 1930, quando passou a ser cultivada no País para a fabricação de cerveja, especialmente nas áreas colônias do sul do País.
Relatos históricos dão conta que a pesquisa em melhoramento genético com cevada no Brasil pode ter começado Rio Grande do Sul, quando da criação, em 1919, pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, da Estação Experimental de Alfredo Chaves (atual Veranópolis/RS) juntamente com o trigo, a espécie alvo principal daquele estabelecimento. A iniciativa privada começou a trabalhar com pesquisa em cevada no Brasil em 1941, quando da instalação de uma estação experimental em Gramado/RS, de propriedade da Cervejaria Continental, de Porto Alegre. Em 1947, a Companhia Cervejaria Brahma adquiriu a Cervejaria Continental, dando um novo impulso às atividades de pesquisa em cevada. Depois, nesse rastro, nos anos 1950 e 1960, também houve o início dos trabalhos de pesquisa com cevada pela Companhia Antarctica Paulista – IBBC e pela Weibull do Brasil, na inciativa privada, e pelos Institutos Agronômico de Campinas (IAC) e de Pesquisas e Experimentação Agropecuária do Sul (IPEAS), além da Secretária da Agricultura do Paraná; na esfera pública. Cabe mencionar ainda que, nesse período, o professor Cláudio Barbosa Torres, gerente de Fomento e Pesquisa da Companhia Cervejaria Brahma, mudou a Estação Experimental de Cevada de Gramado para Encruzilhada do Sul. De 1968 até 1994, essa nova Estação Experimental foi dirigida pelo engenheiro-agrônomo Arlindo Göcks. Foi Arlindo Göcks quem realizou os primeiros cruzamentos com cevada no Brasil, em 1964.
Foi graças a esses trabalhos pioneiros, por meio da seleção de cultivares adaptadas ao ambiente inóspito dos solos ácidos e com umidade elevada do sul do País, que a produção e cevada conseguiu ser sustentada, paralelamente ao desenvolvimento da agricultura mecanizada em áreas de campo, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, até o começo dos anos 1970, quando houve drástica redução de produção, que resultou em descontinuidade das pesquisas nas instituições públicas e o arrefecimento das atividades no setor privado. A Weibull do Brasil, empresa de capital sueco, que mantinha uma estação experimental em Carazinho/RS, encerrou as suas atividades no Brasil em 1971. Em 1973, com a elevação de preços de cevada e malte no mercado internacional, o interesse no cultivo de cevada no País foi retomado. A International Plant Breeders (IPB) iniciou um programa de melhoramento genético de cevada no Brasil, em 1974. E advém, na sequência, o “Programa Nacional de Auto-Suficiência de Cevada e Malte”, em 1976, e, dando sustentação e esse plano do Governo Federal, à Embrapa, por intermédio do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT), foi dada a competência para a execução e coordenação de pesquisas com cevada no território nacional. Foi quando houve a formatação de um programa de melhoramento genético voltado à criação de cultivares de cevada cervejeira, no escopo de um amplo Programa Nacional de Pesquisa de Cevada (PNP Cevada). (continua...)