Inicio a leitura do livro que intitula essa crônica e estou feliz porque vou adentrar ao mundo romântico que embalou os sonhos de minha mãe. Os livros podem fazer compreender as nossas origens e motivações, explicam aqueles insights inexplicáveis, aquelas pequenas reações no cotidiano que foram trazidas a nós pela genética e pelas experiências e vivências dos antecessores porque, até prova em contrário, tudo é repetição, como mostra extraordinariamente Claude Lelouch em Retratos da Vida, em que o dançarino argentino Jorge Donn dança maravilhosamente o Bolero de Ravel. O mundo de sonhos de Dona Neca tinha a aveludada voz de Dick Farney (Copacabana princesinha do mar...), tinha a parceria de Lupicínio-Francisco Alves, o rei da voz; tinha Dolores Duran e as irmãs Baptista; tinha Herivelto-Dalva e suas brigas que motivavam músicas e tinha o mágico mundo dos cassinos. Dali, dessa atmosfera de sonhos permeada da fumaça dos cigarros e dos filmes em preto-branco aflorou a melancolia do olhar emprestada geneticamente pela família Salles, a qual tento disfarçar contanto piadas e tentando parecer engraçado.
Fui ao Rio de 1930-1950 em Heleno (Marcos Eduardo Vaz) e mais tarde aos times que enfeitavam meus álbuns de figurinhas como São Cristóvão, Olaria, Madureira, América, Bonsucesso, além dos grandes do Rio. Naquela época os times se nivelavam porque jogar futebol era atividade diletante e ao Botafogo de Rogério, Gerson, Roberto, Jairzinho e Paulo Cesar Caju só o Santos de Pelé-Coutinho para enfrentá-lo.
Fui ao Solar da Fossa (Toninho Vaz) que existia entre Botafogo-Copacabana em que moravam os mestres da música brasileira dos anos 60. Descobri que Capinam escreveu e Gil musicou Soy Loco por Ti America em de outubro de 1967 tão logo se soube da morte de Che Guevara. Ali, morou Zé Ketty (Máscara Negra), Tim, Caetano, Gal, Torquato, Paulo Coelho, Darlene Gloria e outros maconheiros que ilustraram minha juventude com as viagens de suas composições.
A gente era da ingenuidade de que Che era guerrilheiro do bem, que ele era da nossa turma; pegaríamos nas armas tal qual ele fez e que o mundo se quedaria ao charmoso subversivo (se hay gobierno, soy contra). Mas, o mundo é feito de pessoas e elas são quase iguais no mundo inteiro tão logo cheguem ao poder, enfeitiçadas ficam lambuzadas pelas mesmas benesses e facilidades dos antecessores, conforme relatou tão bem Orwell em A revolução dos Bichos. Que pena.
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